terça-feira, 18 de abril de 2006

Na prisão pela manhã

"Eram 10.30h da manhã e o Director do Estabelecimento Prisional de Lisboa estava com uma valente dor de cabeça. Daquelas que nos agarram pela manhã e tardam a largar-nos. Tudo por causa daquela bendita (?) ideia do Ministro da Justiça de meter empresas de segurança privada a vigiar as prisões.
Ainda mal tinha chegado de manhã e os telefonemas do pessoal que vigia os bares da 24 de Julho já tinham começado, perguntando se havia vagas, quanto é que se ganhava por noite e se tinham impunidade legal no caso de existir necessidade de bater nos reclusos.
Depois, tinham sido os guardas da ala F que lhe tinham comunicado que os reclusos daquela ala tinham desatado a comemorar, com garrafas de água e feijão frade, o facto da maior parte dos seus vigilantes passarem a ser os seus familiares.
E ninguém lhe tinha dito nada. Rigorosamente nada. Os jornais já haviam telefonado. O seu primo, que trabalhava na TVI, já lhe tinha pedido um exclusivo. E do Ministério nada!
Ao que parece, o E.P.L. também ia mudar de sítio para a periferia. Ficou a saber disso quando os guardas da Ala C, destinada ao pessoal que vinha da Costa da Caparica, vieram comunicar-lhe que os reclusos daquela ala estavam a comemorar tal facto com cachapa e pêras (na ala C não havia garrafas de água devido ao óbvio perigo dos tipos abrirem qualquer fechadura com qualquer material que lhes fosse posto nas mãos), e que os da ala D (destinada ao pessoal da Linha de Cascais) já haviam elaborado uma petição solicitando a colocação do novo E.P. junto do Cascais Shopping ou de uma praia onde se pudessem ver mulheres nuas.
Telefonou, cerca das 10 horas, para o seu cunhado, que estava no E.P. de Pinheiro da Cruz. Este também lhe disse que só sabia o que tinha ouvido na rádio, e que estava muito contente por o Governo ter reconhecido que o enorme agregado populacional à volta do E.P. de Pinheiro da Cruz estava a criar nos reclusos a vontade de escapar, dadas as grandes tentações sociais circundantes.
O Director do E.P.L. desligou o telefone com a sensação de que o seu mundo tinha tirado umas mini-férias.
Mal ele sabia que, num gabinete distante no Ministério da Justiça, um Ministro começava a pensar em colocar os Directores dos Estabelecimentos Prisionais como excedentários na função pública, com possível colocação em Angola..."

2 comentários:

ENGº. Viriato disse...

Caro amigo,
Lamento ter de escrever este comentário mas detectei um erro crasso no teu post: talvez sem te aperceberes foi por ti escrito que "...no Ministério da Justiça, um Ministro começava a pensar...". Ora, é por todos sabido que um Ministro pensar é uma fábula, uma ilusão para adormecer meninos; mais, um Ministro a pensar no Ministério da justiça é um verdadeiro facto contra natura, real aberração, qual aborto espontaneo de vaca de duas cabeças...o resto está bom. Respeitosamente te apresento os meus respeitosos respeitos

Bottled (em português, Botelho) disse...

É verdade Chefe,

Daí aquele ditado: penso, logo... não sou Ministro!

Hic Hic Hurra