sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Missiva interna ao Camarada Presidente do Partido

Camarada Presidente,

Começo por lhe desejar uma vida cheia de felicidade e conquistas a favor da laboriosa classe operária portuguesa.
Os planos para a Revolução operária aproximam-se da “Hora H”. O povo em geral e a classe operária em particular estão mais descontentes que nunca, pelo que está na altura da infra-estrutura trabalhadora esmagar a super-estrutura burguesa e opressora de todo um povo.
Falei com o camarada “Manuel” (o do Governo Civil, o que daquela vez foi com a gente comer choco frito…) e o mesmo disse-me que ainda lá tem as duas G3 em casa mas que uma está irremediavelmente avariada, pelo que não dispara, e para a outra não há munições. Pensámos surripiar as duas caçadeiras do sogro dele mas nesse caso a Revolução não pode ser ao Domingo porque o velhote vai para a caça e se não vê as espingardas no sítio é o diabo lá em casa…
O camarada “José” (é o Mendes, o ajudante de farmácia que até arranjou os comprimidos para a sua senhora…) informou-me que agora está no turno da tarde, motivo pelo qual só pode estar na Revolução até ao meio-dia que é para depois dar tempo de ir almoçar a casa e pegar à uma.
Posto isto, e tendo em atenção que lá no serviço o meu Chefe anda em cima de nós que até parece uma sogra em véspera de casamento, proponho que nos encontremos os quatro às oito da manhã ao pé do arco da Rua Augusta, na próxima 6ª feira, com as caçadeiras embrulhadas em papel de jornal para ninguém desconfiar. Pelas oito e tal escolhemos um Ministério ali perto e começamos a Revolução.
Estou certo que lá pelas nove da manhã as massas laboriosas terão aderido em peso à Revolução e às nove e meia, dez horas, o operariado estará no poder. Assim conciliamos os interesses de todos os camaradas envolvidos com o superior interesse da classe operária.
Se este plano não for aprovado apresento desde já a minha demissão de Secretário Coordenador dos Operários Fabris Portugueses.
Saudações Socialistas

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