segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Mais uma preocupação emergente da gripe das aves

Como vos disse na passada quinta-feira, dado o estado ébrio a que este blogue tinha chegado na altura, decidi-me a ir passar o fim-de-semana na Quinta Real de Nafarros, em solar integrado na nossa família há vários séculos.
Estava eu a saborear, pela janela, a doce visão paisagística do nosso meio rural, bem como o seu ar puro, quando me entra pelo salão adentro o nosso fiel Jacinto, capataz da Quinta praticamente desde a revolução do 28 de Maio de 1926.
Palavra puxa palavra, às tantas pergunta-me o Jacinto se as coisas que os noticiários televisivos andam a passar sobre a gripe das aves e a sua transmissão aos humanos eram verdadeiras.
Respondi-lhe que era bastante provável, dadas as constantes mutações a que os vírus estão sujeitos.
Vi-o suspirar, abanar a cabeça e perguntar-se "e agora, o que é que eu faço?".
Instei-o sobre o motivo de tanta preocupação.
"Saiba Vossa Senhoria que a vida de um homem da minha idade está a tornar-se cada vez mais difícil. Primeiro foi a minha Maria que teve a menopausa e disse-me que não queria mais coisas daquelas. Comecei a ir ter com as meninas da Aldeia, só que entretanto apareceu a SIDA e tive de me deixar disso, senhor Marquês, que eu sou uma pessoa muito cuidadosa e não quero morrer por causa dessas coisas de segundos; passei então a aliviar-me com a Matilde, uma das porcas, até que houve um surto de peste suína africana e passei para a Lãzuda, uma das ovelhas; só que entretanto veio um surto de brucelose, no qual eu também fiquei afectado e só não morri por acaso; comecei então a aliviar-me com a Cornélia, até que apareceu a doença das vacas loucas e aquela coisa do Croitefelde-Jacómes, e fui obrigado a aliviar-me na Rirri, a nossa melhor galinha poedeira. Agora com esta coisa da gripe das aves, não sei a quem mais recorrer para me aliviar, senhor Marquês".
"Bom, segundo as minhas contas, ainda resta a cadela, homem." – disse-lhe eu, em tom irónico, mas ainda não acreditando no que estava a ouvir.
"Bom, senhor Marquês, eu bem tentei aliviar-me na Lassie, mas a única vez em que tentei fazer isso fui parar ao hospital com uma dentada nos testículos dada pelo Piloto. Levei 15 pontos. Sabe, o mé cão é muito ciumento".
Sentei-me num dos sofás incrédulo, levando a mão esquerda à cara enquanto que com a mão direita lhe fazia um gesto para sair do salão.

1 comentário:

Bottled (em português, Botelho) disse...

Meu Caro Marquês,
Não sabia que Sua Senhoria tinha um empregado de tão bons hábitos ao serviço de V. Exa.!
Uma destas noites, quando eu estiver bem bebido (ou seja, no meu anormal estado normal), hei-de passar por suas propriedades e ajuntar-me ao "Seu" Jacinto, numa desgarrada sem garras pelo mundo animal!
Da última vez que tal sucedeu, recordo-o com uma lágrima no canto do olho, foram precisos seis meses para convencer a pata que eu não era o causador dos ovos e andei quase um ano com uma cabra montês, de olhar terno e apaixonado, a fazer-me de sombra!
Tenho de me deixar dessas coisas, bem o sei, mas eu, quando bebo, não respondo pelo que faço, escrevo ou digo!
Fico, contudo, orgulhoso por ter conseguido, em conjunto com o Chefe Viriato, tirar V. Senhoria do sério. Olhe que lhe faz bem, de vez em quando.
Grande abraço deste Seu servo servil, sempre atento aos animais domésticos e bravios perdidos na noite.
Hic Hic Hurra!