sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Abortem o Referendo

Ainda nem sequer viu a luz do dia e já o estão a abortar!
Até parece irreal que, neste castiço cantinho da Europa, as coisas se passem desta forma.
Logo aqui, onde tudo é feito de forma harmoniosa e pacífica.
Na impossibilidade de tomar uma posição política sobre o tema, e embora se reconheça que o mesmo é de difícil solução, decidiu-se referendar o aborto!
Confesso que, quando me falaram no que tencionavam fazer
com o aborto, pensei que se iria referendar toda a classe política.
Mais atentamente, porém, cheguei à conclusão que assim não seria e se tratava, afinal, da questão referente à interrupção voluntária da gravidez!
Como se sabe, abortar em Portugal pode ser considerado crime.
Não quero, nem vou, tomar posição sobre a questão. É complexo: depende sempre da perspectiva, existem valores em conflito que, de acordo com quem os interpreta, tendencialmente farão pender a balança para um dos lados: o daqueles que defendem a sua despenalização e o dos que, no pólo oposto, são defensores convictos da punição do mesmo.
A liberdade de decidir sobre os danos causados no próprio organismo (num caso claro de consentimento do ofendido, ou da ofendida, para sermos mais precisos), poderia levar-nos à "vexata questio" de apurar quem seria realmente esse ofendido: se a mãe se o embrião ou feto que carrega em seu ventre. Ou mesmo do momento relevante em que devemos considerar para todos os efeitos (jurídico, social, ético ou médico) que já existe vida humana. Quem se interessar sobre o tema, por certo não deixará de encontrar várias teorias interessantes e nelas se basear para alicerçar a sua opinião.
Eu tenho a minha mas, como em tudo na vida, respeito as demais.
O que não posso deixar de comentar, por outro lado, é a maneira como o poder político se movimenta no tratamento desta questão.
Impunha-se outra dignidade.
Mas não é nada a que já não estejamos habituados.
Então primeiro decide-se fazer um referendo sobre o tema e depois abortam o mesmo?
E invocam a sua inconstitucionalidade?
Não posso crer!
Aliás, poderíamos até realizar um referendo sobre esta matéria, neste mesmo blog, com a seguinte questão: "Concorda com a inconstitucionalidade do referendo sobre o aborto, se realizada, por opção do Presidente da República, nas primeiras 10 semanas após ter passado a questão na Assembleia da República, em Tribunal Constitucional legalmente autorizado?".
O que não invalida as responsabilidades da classe política na matéria!
São uns criminosos, é o que são!
Mais, eu defendo que, tendo sido publicada a pergunta a fazer aos portugueses no dito referendo, o mesmo passou a ter vida própria.
Defendo, pois, que todos os políticos responsáveis pelo referendo sejam criminalmente acusados pela autoria material do crime de aborto do referendo.
Só assim se faria justiça nesta aldeia lusitana.
E agora vou beber um copito para esquecer e vou-me deitar com as galinhas, para ver se alguma dá a luz um pinto que goste de beber vinho!
Hic Hic Hurra!

1 comentário:

Anónimo disse...

Não entendo porque é que o pessoal deste blog tá sempre a falar no Primeiro Ministro. Deixem o ab...o Sócrates trabalhar, caramba.