sábado, 17 de setembro de 2005

Delírio de uma noite de Verão
(que me perdoe o reverendíssimo W. S. por colocar o seu talento ao serviço do titulo acima, que pouco deve, desta forma, à imaginação).


“Portugal - Come and Burn
Agora que oficialmente se aproxima do fim a época de fogos, Aldeia Lusitana soube a partir de fonte próxima ao gabinete de José Sócrates que para 2006 o período critico de incêndios terá um novo enquadramento, quer na forma, quer na prática. Há, de acordo com a fonte, que prefere manter confidencialidade, “um certo mal-estar no seio do Executivo, face aos maus resultados apresentados pela época de fogos em 2005”. Isso mesmo deixa transparecer o recente comunicado que resulta da última reunião de Conselho de Ministros. Lê-se, desta forma, no referido documento: “Portugal ficou em 2005, no que respeita a área ardida, embora melhor do que 2004, muito aquém de 2003. Mesmo os últimos resultados apresentados pela Direcção Geral dos Recursos Florestais, dando conta de mais de 260 mil hectares consumidos pelas chamas, colocam-nos muito abaixo das nossas previsões mais optimistas”.
O referido comunicado acrescenta, ainda, que “não se compreende como em ano de seca extrema Portugal não arda mais. Este é, sem dúvida um problema estrutural, de evidente descoordenação de meios e falta de formação. Não basta o Anticiclone dos Açores manter a sua posição atípica no Atlântico Norte, é preciso que os portugueses saibam tirar mais valia desta situação ”.
Embora as propostas estejam ainda na forja, Aldeia Lusitana está, neste momento, em condições de publicar, em primeira-mão, algumas das medidas que a equipa do Primeiro-Ministro prepara para 2006.

- Passará a existir um sistema de quotas para área ardida, a estabelecer com as autarquias, numa relação proporcional à área florestal de cada município. Desta forma fica assegurado à partida o mapa dos incêndios, documento que a partir de Fevereiro de cada ano será do conhecimento das populações.

- A transmissão televisiva dos incêndios será negociada antes do início da época com cada um dos operadores. Os patrocínios são da responsabilidade de cada um dos canais podendo, eventualmente, recorrer ao aluguer de meios aéreos para o lançamento de folhetos publicitários. .

- Será extinto o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, convertido numa Força Nacional de Esforço Incendiário.

- A época de incêndios passa a ser coordenada pelo Ministério da Economia e Inovação/Secretaria de Estado do Turismo que, em conjunto com o ICEP, Regiões de Turismo, entre outras entidades, farão a sua promoção turística dentro e fora do país sob o lema “Portugal, Come and Burn

- Será criado o estatuto de incendiário profissional, carreira enquadrada e reconhecida socialmente.

- Em áreas já queimadas decorrerão estágios de formação para futuros incendiários. O governo empenha-se em facultar a futuras gerações de incendiários todas as condições para progressão na carreira.

- Passarão a existir novas modalidades de incêndio, nomeadamente em parques e jardins urbanos. O governo pretende, desta forma, empenhar e incentivar a participação das populações citadinas no esforço colectivo dos incêndios.

- Abertura de linhas de crédito e de apoio a empresas que apostem na pirotecnia com fins incendiários.


De acordo com a já referida fonte confidencial e, acreditando nos cálculos apresentados pelo Ministério da Economia, estima-se que até 2011 a industria dos incêndios contribua com 3 a 4% Para o PIB nacional.

Post Scriptum – Pelo caminho que isto leva não me admira que certo dia o imbecil delírio das linhas acima se torne realidade. Portugal só abre os olhos para os incêndios através do óculo televisivo, enfrentando-o com uma leveza de efeito cinematográfico. A diferença está na forma como se rumina: frente ao grande ecrã mastiga-se a pipoca, em casa abrimos a boca ao lixo regurgitado pela mãezinha televisão.
Portugal arde e a culpa é de todos os portugueses: daqueles que ateiam e dos outros que não exigem. Um país sem uma opinião pública forte, esclarecida e de intervenção é um país condenado. Em Portugal a opinião pública mantém-se no seu ninho, fraca, batendo as asinhas, aguardando que a grande passaroca Estado lhe regurgite para a boca a matéria já digerida. Não se exige, não se culpa, não se pune. Cai o pano sobre a época de incêndios, as luzes voltam-se para os assuntos mesquinhos do pequeno burgo e nós continuamos de olhos fechados. Voltamo-nos na cama, aconchegamos a almofada, resmungamos levemente e continuamos a dormir. Pode ser que um dia os lençóis nos ardam.

Sem comentários: