sábado, 1 de novembro de 2008

Miguel Sousa Tavares e a insustentável leveza de nada ter

Todo o país assistiu, emocionado, ao pungente apelo feito na comunicação social pelo famoso escritor que viu eclipsar-se o seu computador e, com ele, a sua última obra literária, já quase terminada, que se aprestava a entregar na editora.
Após se ter mostrado magnânimo ao ponto de permitir aos larápios a troca da obra por quase tudo o que ele possuísse, não tardaram a surgir boatos que nada mais são que meras tentativas de explicar o que teria sucedido.
De um lado, há quem jure a pés juntos que os ladrões já devolveram a obra e, em troca, apenas pediram uns favores íntimos, o que explicaria o desenvolvimento de trejeitos faciais daquele comentador televisivo, anormalmente visíveis ultimamente, bem como um amaneirar gestual, meio para o abichanado, acompanhado de uma pouco perceptível tendência para esganiçar a voz, usualmente tão potente e pujante.
Por outro lado, há também quem defenda que a obra nunca mais irá aparecer, pois se os gatunos mostraram curiosidade pelo conteúdo do computador e tentaram ler a obra, temem que não mais consigam voltar a ser o que eram ou sequer lembrar-se do que faziam e de como é que um computador lhes apareceu nas mãos.
A aldeia sabe, no entanto, que este episódio rocambolesco teve, pelo menos, um efeito positivo: evitou a tortura mental de centenas de leitores desprevenidos e travou o ímpeto consumista de uma série de criaturas que compram de forma perfeitamente maníaca e alucinada todos os livros escritos por figuras públicas ou por alguém em nome deles, quando elas não sabem escrever, assim contribuindo de forma positiva para o restabelecimento dos níveis de confiança nos consumidores.
E não pode deixar de concluir que, se houvesse de adaptar esta nova obra ao cinema, o único filme que faria justiça à mesma, pese embora também ele fosse já uma adaptação, seria “As palavras que nunca te direi”!
Hic Hic Hurra

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