quarta-feira, 28 de maio de 2008

O que custa, hoje em dia, não abdicar do carro topo de gama

Eis a pergunta que fizemos ao Dr. Filipe Dinte Pacífico, antigo administrador de empresas públicas, actualmente no desemprego até à mudança de Governo (ele acha que está quase), tendo obtido a seguinte entrevista que passamos a publicar (sim, pois não é só a Judite ou a Constança que fazem grandes entrevistas):
AL - Preocupa-o o actual estado financeiro e económico do País, quando enquadrado na actual conjuntura europeia e mundial?
FDP - Já me preocupou mais, devo confessar-lhe. A partir de certa altura, quando se me acabou o subsídio de desemprego e eu fui bater à porta dos Ministros a pedir um lugarzito numa empresa ou instituto público, todos me receberam com palmadinhas nas costas e sorrisos, mas igualmente todos foram unânimes em dizer que havia sempre um primo ou sobrinho que estavam à minha frente...
AL - Ainda assim, soubemos que tem vivido com algum sacrifício nos últimos tempos, não é verdade?
FDP - Bem, sabe, só comecei a notar propriamente os efeitos da crise quando a minha mulher me abandonou e levou as crianças para ir viver, imagine só, com um mero funcionário bancário, com um carrinho utilitário, um apartamento T2 e que ganhava apenas 1.300 € por mês, bem como quando a empregada da limpeza se foi embora por eu não lhe pagar o ordenado dos últimos 6 meses, a ingrata, depois de tudo o que por ela fiz! Crise que se agravou quando as Finanças me penhoraram a vivenda na Quinta da Marinha e só então tive de pedir uns trocos emprestados a uns familiares para não me levarem o Ferrari. Que tenho mantido a custo, apenas com o que consigo ganhar aqui nas ruas, e ainda vai dando para atestar o depósito uma vez por mês, se eu não almoçar e jantar de forma frugal. As revisões é que são o cabo dos trabalhos, pois a oficina já me disse que agora só faz reparações e revisões a pronto pagamento e apenas quando eu liquidar na íntegra a última factura, que estou a pagar em suaves prestações mensais. Creio que a vida tem sido um pouco injusta para comigo nestes últimos anos, mas isto vai mudar...
AL - É bom vê-lo assim tão optimista. Certamente que irá, tenha calma...
FDP - Ai vai de certeza! Assim que este Governo cair lá estarei eu de regresso a um cargo de gestor público e, a partir daí, outro galo cantará! Nessa altura, meus amigos, a crise passa a ser um problema dos outros! Eu apenas me fingirei preocupado com ela, noblesse oblige...
Hic Hic Hurra

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