segunda-feira, 23 de abril de 2007

Porque hoje é dia mundial do livro

Lanço aqui um réptil (pode ser um dragão de komodo, com um laçarote cor-de-rosa para ficar fofinho) no sentido de partilharmos, colegas de blog e demais visitantes, os livros que andamos presentemente a ler.
Começo eu: estou a ler um livro de Ha Jin, um escritor chinês radicado nos EUA, onde lecciona, intitulado Waiting (em português, À Espera, Edições Gradiva), que nos conta a história de Lin Kong, um médico ao serviço do exército chinês, num tempo em que o predomínio do partido comunista era avassalador, que se apaixona por uma enfermeira, Manna Wu, sendo essa paixão correspondida. O problema (há sempre um raio de um problema) é que Lin Kong é casado com Shuyu, uma camponesa que lhe foi imposta pela sua família e que, ao longo dos anos, cuidou dos seus pais até ao falecimento deles, mantendo a casa de família, na aldeia, sempre a postos para a única deslocação anual que o marido faz, em gozo de férias, tendo-lhe dado a única filha do casal e que ainda o ama.
Num tempo de grandes convenções e restrições sociais obviamente que a bigamia era proibida socialmente, o que implicava a necessidade de obtenção do divórcio, por parte de Lin Kong, para que pudesse celebrar novo casamento com Manna Wu. E, durante 17 anos, sucessivamente Lin Kong tentava obter esse divórcio junto da mulher que, inicialmente, concordava com o desejo do marido (à boa tradição chinesa) mas, depois, no último momento, acabava por não o conceder.
Acrescenta-se, ainda, que Lin Kong desde o início não concordou com o casamento acordado entre famílias e nunca gostou fisicamente de Shuyu, embora lhe reconhecesse competência na lida da casa, amor pelos seus pais, de quem tratou como se fosse filha, amor pela filha de ambos, a quem educa de forma exemplar e mérito quer no exercício das tarefas domésticas quer na forma como orienta o dinheiro que, mensalmente, lhe envia e trata do campo e dos animais que possuem. A questão é que Manna Wu, que espera ano após ano pelo divórcio, é uma mulher moderna e bonita, que Lin Kong considera ser o amor de sua vida.
Estamos num ponto de viragem, pois a partir do 18.º ano, o consentimento da mulher já não será necessário para a obtenção do divórcio e, através de um olhar pelo presente com incursões pelo passado de todos os personagens, a história encontra-se, a meu ver, extremamente enriquecida com pormenores deliciosos de uma China fechada ao mundo Ocidental, numa época difícil, e, apesar de ainda só ir a meio do livro, acho que o mesmo tem qualidade suficiente para que o recomende (além de ser uma obra premiada, o que lhe dá algum prestígio também).
Fico, então, à espera dos V. contributos, até para começar a fazer a minha lista de livros para as férias.
Hic Hic Hurra
Nota - Caros colegas de blog, eu escrevi Lin Kong, não foi King Kong, e digo isto já a prevenir o que vai nessas cabecinhas.

5 comentários:

Inspector Serôdio, José Serôdio disse...

A Gina conta?

Marquês disse...

O Kama Sutra do Vatsyanya conta?

Rabodesaia disse...

Sr Engenheiro,

estavam a dar hoje uns livros no metro... anunciavam milhares de livros gratuitos, mas eu nem ve-los!! percebi... afinal somos um país de intelectuais e a malta da bola e do record rendeu-se toda a Saramago e a kafka.. e acabou com a fornada de livros gratuitos. Será??

Bottled (em português, Botelho) disse...

Cara Senhora Engenheira rabodesaia,

Sem cuidar de entrar em polémicas com os tarados dos meus colegas de blog, que não podem ver um réptil de laçarote sem que os seus fetiches pessoais venham à superfície, não posso crer em tal situação que tão bem descreve.

Neste país alguém dá alguma coisa a alguém?

Ainda para mais livros, ao preço a que eles estão... vai lá, vai!

Devo, entretanto, dizer-lhe que muita da minha juventude foi passada a ler essas grandes obras-primas do jornalismo lusitano que se chamam "A Bola" (jornal muitas das vezes fanado ao Exmo. Senhor Marquês) e "Record" (que me era fanado pelo nobre em questão, como forma de retaliação) e, ainda assim, conseguimos crescer saudáveis, fortes e... o que era mais?

Mas, já que fala nisso, creio que pelo menos 80 % da população masculina diria, em sede de inquérito, que Kafka era o novo centro-campista finlandês que vem reforçar o Benfica na próxima época, ao mesmo tempo que dizem que Saramago, que joga defesa central no Gondomar, está a ser injustiçado pelo Seleccionador Nacional de Cabo Verde, pois não o convoca com regularidade.

Assumindo uma postura mais séria, recomendo-lhe uma obra surreal, já que dele falamos, intitulada Kafka à beira-mar (lá está, mais um clube de futebol... isto é uma conspiração, só pode!), de um autor japonês, Haruki Murakami. Um livro, como é dito nos comentários ao mesmo, que deveria ser lido aos gatos pelos seus donos. Muito bem escrito, relata os universos paralelos de dois personagens que nunca se chegam a conhecer mas são decisivos no desenrolar das respectivas histórias pessoais. Refiro-me a Kafka Tamura e a Nakata. Se um dia tiver oportunidade, leia-o e, se não gostar e quiser retaliar, fachavor de escolher entre o Senhor Marquês, o Senhor Inspector Serôdio e o nosso Chefe, que não se importarão de ser flagelados "in the old fashion way".

Hic Hic Hurra

Rabodesaia disse...

ok fica dada a dica...vou ver se encontro o livro ;)