Quando eles se despem da liderança
E aparecem a falar, fazendo campanha, pelo "Sim" e pelo "Não", como qualquer outro cidadão, isso deixa-me francamente preocupado.
Falo, concretamente, da classe política e daqueles que assumiram as responsabilidades (ou não) inerentes à liderança de um partido, seja ele o que Governa, seja ele o que se encontra do outro lado da barricada, como mais forte oposição ao primeiro.
Vem este intróito a propósito das posições públicas que Sócrates e Marques Mendes já assumiram, fazendo campanha por, pasme-se, lados opostos também na matéria a referendar.
Já tive oportunidade de escrever aqui, aquando da primeira tentativa, abortada, de referendar a coisa, que esta é uma matéria de grande sensibilidade e cujo grau de dificuldade exige, mais do que influências da classe política, uma enorme dose de reflexão e de bom senso por parte de quem vai votar, porquanto não se trata de matéria fácil e os argumentos de ambos os lados são válidos e compreensíveis.
Já existiu, por parte do Estado, uma intervenção legislativa na matéria, baseada em critérios políticos, que foi no sentido de criminalizar a prática do aborto, com certas excepções legais.
Já existiu, por parte do Estado, uma intervenção legislativa na matéria, baseada em critérios políticos, que foi no sentido de criminalizar a prática do aborto, com certas excepções legais.
Agora, o que se pretende é que o povo, onde radica a democracia (como diria Montesquieu), se pronuncie sobre a questão, de maneira a que os políticos saibam o que nos vai na alma sobre a matéria, mas eu tenho para mim, independentemente do meu sentido de voto (que já está formado faz muito tempo, nesta como noutras questões polémicas), que em nada se contribuíu para o aprofundar das questões que realmente tinham interesse numa matéria tão delicada como a presente.
Quer se seja partidário do "Sim", e se defenda a liberdade da mulher optar pela interrupção voluntária da gravidez, pois se trata do seu corpo, não existindo ainda vida no feto em formação que, como se fundamenta a penalização, configure um "suicídio embrionário", ou do "Não", e se seja apologista da existência, logo aquando da fecundação, de um ser vivo que se irá desenvolver no útero de sua mãe, cuja personalidade e direito à vida merecem ser protegidos, o pior de tudo é a percepção que tenho, ainda hoje, que, qualquer que seja o vencedor ou o vencido no referendo, as coisas continuarão tal como antes e, uma vez mais, fica o sabor amargo de ver a classe política, desnudada dessa condição, pretender manipular o voto de cada um de nós, impedindo-nos de pensar pelas nossas próprias cabeças, dando-nos concertos, música ao vivo, festas e almoços e jantaradas como se de algo de banal o referendo tratasse!
Se ainda tivesse uma palavra a dizer sobre o assunto, garanto-vos que em nada tentaria influenciar o sentido de voto de cada um, apenas faria um apelo: pensem maduramente sobre a questão e, qualquer que seja a conclusão a que chegarem, adoptem-na como vossa, fruto da vossa reflexão, pois aí reside o verdadeiro valor de qualquer opinião! O facto de ela ser, genuinamente, nossa! E aí, qualquer que fosse o resultado do referendo, o verdadeiro vencedor seria o povo e, por seu intermédio, toda uma Nação.
Por mim, recuso-me a ser apenas mais um que lá vai abanar a cabeça na hora de votar!
Hic Hic Hurra
Nota: Chefe, para quando um referendo aqui no blog, para vermos uma sessãozita de "strip" sua quando se despir das suas funções de liderança e vier para aqui influenciar o sentido de voto dos/das coitados/das que ainda aturam o que escrevemos? Talvez assim conseguissemos ver as visitas disparar e o contador das mesmas ficar avariado de tanto uso!!!!
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