terça-feira, 25 de julho de 2006

Crime no Palácio de São Bento – Capítulo VII

Resumo do capítulo anterior
Dois corpos são encontrados no gabinete do Primeiro-Ministro. Andrei, o motorista do Primeiro-Ministro, está morto. Zulmira, a empregada da limpeza, fingiu estar morta, mas viria realmente a morrer quando tentava a sua fuga do local. No local continuam a encontrar-se o Inspector Serôdio, o Dr. Campos, médico legista, o Primeiro-Ministro e o mordomo do Palácio.
-
“- Voltando ao que interessa. Sr. Primeiro-Ministro, tem alguma ideia do que possa ter sucedido?- perguntou o Inspector, ao mesmo tempo que continuava a olhar para o mordomo.
- Nenhuma. Rigorosamente nenhuma. Aliás, continua perfeitamente aturdido com o sucedido. Tem sido uma verdadeira sequência de surpresas, umas atrás das outras. Nunca pensei que a Zulmira pudesse ter aquela linguagem... quero dizer, já a tinha ouvido usar noutras circunstâncias, mas assim em público nunca pensei que ela pudesse proferir tais expressões...
- Em que outras circunstâncias? – perguntou curioso o Inspector.
- Bom, se quer que lhe diga realmente, foi um destes dias quando, inadvertidamente apanhei a Zulmira em franca troca de intimidades com este senhor – disse, apontando na direcção do mordomo, que arregalou os olhos.
- Comigo, senhor? Nunca! Saiba Vossa Excelência que estes olhos, que a terra há de comer, viu muita coisa nesta vida, mas nunca assistiu a movimentos mais intímos das minhas mãos na direcção de uma qualquer empregadita de limpeza com idade para ser minha filha!
- Quem disse que o senhor estava a mexer com as mãos? Só me apercebi da sua boca a mexer!
- Senhor Primeiro-Ministro, exigo a Vossa Excelência que tenha noção do decoro e se retraia nas suas palavras enquanto é tempo. Olhe que quanto a movimentos de boca, também há muito que dizer sobre o senhor e o falecido motorista!
- Prove, homem, prove! Ou isso ou ponha-se já na rua!- respondeu o Primeiro-Ministro.
- Vossa Senhoria não pode pôr-me na rua. Sou funcionário público. Logo, a sair daqui, só para ser promovido para outro lado, como qualquer funcionário público. V. Ex.ª quer promover-me para que local?
Estava o Primeiro-Ministro preparado para a continuação de um seus famigerados ataques de má disposição, quando, subitamente, começa a entoar uma sirene no interior do Palácio. Em tom longo, apertado e grave. Imediatamente apareceram dois guarda-costas do Primeiro-Ministro no gabinete que o jogaram para o chão e se puseram agachados, em posição de espera, junto ao corpo caído daquele.
- Há quanto tempo! – exclamou o mordomo, atónito com o que estava a ouvir.
- Que barulho é este? – perguntou o Inspector.
- O alarme de ataque ao Palácio. – respondeu o mordomo.
- Ataque?! – disseram os demais em uníssono, com excepção dos guarda-costas, que continuavam agachados e sem dizer palavra.
. A última vez que o ouvi foi no tempo do PREC – continuou o mordomo. – O alarme é activado quando qualquer coisa parecida com um tanque, um porta-aviões ou o Otelo Saraiva de Carvalho se aproxima das instalações do Palácio.
O médico legista dirigiu-se à janela para espreitar. Nada viu, além do corpo de Zulmira, que permanecia lá fora caído no chão.
-Olhe para o céu- disse o Inspector.
E foi então que os viram. Uma quadrilha de doze aviões, ostentando o desenho da bandeira israelita nas suas fusilagens, aproximava-se do Palácio. Subitamente, cada um deles largou duas bombas.
Trinta e quatro segundos depois, o pânico que se instalara entretanto na Rua de São Bento desaparecera. Porque entretanto a Rua de São Bento também desaparecera. Mas o Palácio permanecia intacto, tal como os seus ocupantes.
- Mas o que carga de água se passou aqui? – perguntou o Primeiro-Ministro, levantando-se após o alarme ter cessado o seu toque.
- Chefe, está a passar na “SIC Notícias” um comunicado do Primeiro-Ministro Israelita – disse outro guarda-costa que entretanto entrara no gabinete. – E parece que o gajo tá com um ar fodido.
- Vamos lá ver qual o motivo desta confusão toda. – disse o Primeiro-Ministro, saíndo da sala acompanhado pelos demais ocupantes da mesma, com excepção do mordomo, que entretanto se colocara junto ao cofre do gabinete em reza ladainhada"
.
(cont)

Sem comentários: