Crime no Palácio de São Bento – Capítulo VII
Resumo do capítulo anterior
Dois corpos são encontrados no gabinete do Primeiro-Ministro. Andrei, o motorista do Primeiro-Ministro, está morto. Zulmira, a empregada da limpeza, fingiu estar morta, mas viria realmente a morrer quando tentava a sua fuga do local. No local continuam a encontrar-se o Inspector Serôdio, o Dr. Campos, médico legista, o Primeiro-Ministro e o mordomo do Palácio.
-
“- Voltando ao que interessa. Sr. Primeiro-Ministro, tem alguma ideia do que possa ter sucedido?- perguntou o Inspector, ao mesmo tempo que continuava a olhar para o mordomo.
- Nenhuma. Rigorosamente nenhuma. Aliás, continua perfeitamente aturdido com o sucedido. Tem sido uma verdadeira sequência de surpresas, umas atrás das outras. Nunca pensei que a Zulmira pudesse ter aquela linguagem... quero dizer, já a tinha ouvido usar noutras circunstâncias, mas assim em público nunca pensei que ela pudesse proferir tais expressões...
- Em que outras circunstâncias? – perguntou curioso o Inspector.
- Bom, se quer que lhe diga realmente, foi um destes dias quando, inadvertidamente apanhei a Zulmira em franca troca de intimidades com este senhor – disse, apontando na direcção do mordomo, que arregalou os olhos.
- Comigo, senhor? Nunca! Saiba Vossa Excelência que estes olhos, que a terra há de comer, viu muita coisa nesta vida, mas nunca assistiu a movimentos mais intímos das minhas mãos na direcção de uma qualquer empregadita de limpeza com idade para ser minha filha!
- Quem disse que o senhor estava a mexer com as mãos? Só me apercebi da sua boca a mexer!
- Senhor Primeiro-Ministro, exigo a Vossa Excelência que tenha noção do decoro e se retraia nas suas palavras enquanto é tempo. Olhe que quanto a movimentos de boca, também há muito que dizer sobre o senhor e o falecido motorista!
- Prove, homem, prove! Ou isso ou ponha-se já na rua!- respondeu o Primeiro-Ministro.
- Vossa Senhoria não pode pôr-me na rua. Sou funcionário público. Logo, a sair daqui, só para ser promovido para outro lado, como qualquer funcionário público. V. Ex.ª quer promover-me para que local?
Estava o Primeiro-Ministro preparado para a continuação de um seus famigerados ataques de má disposição, quando, subitamente, começa a entoar uma sirene no interior do Palácio. Em tom longo, apertado e grave. Imediatamente apareceram dois guarda-costas do Primeiro-Ministro no gabinete que o jogaram para o chão e se puseram agachados, em posição de espera, junto ao corpo caído daquele.
- Há quanto tempo! – exclamou o mordomo, atónito com o que estava a ouvir.
- Que barulho é este? – perguntou o Inspector.
- O alarme de ataque ao Palácio. – respondeu o mordomo.
- Ataque?! – disseram os demais em uníssono, com excepção dos guarda-costas, que continuavam agachados e sem dizer palavra.
. A última vez que o ouvi foi no tempo do PREC – continuou o mordomo. – O alarme é activado quando qualquer coisa parecida com um tanque, um porta-aviões ou o Otelo Saraiva de Carvalho se aproxima das instalações do Palácio.
O médico legista dirigiu-se à janela para espreitar. Nada viu, além do corpo de Zulmira, que permanecia lá fora caído no chão.
-Olhe para o céu- disse o Inspector.
E foi então que os viram. Uma quadrilha de doze aviões, ostentando o desenho da bandeira israelita nas suas fusilagens, aproximava-se do Palácio. Subitamente, cada um deles largou duas bombas.
Trinta e quatro segundos depois, o pânico que se instalara entretanto na Rua de São Bento desaparecera. Porque entretanto a Rua de São Bento também desaparecera. Mas o Palácio permanecia intacto, tal como os seus ocupantes.
- Mas o que carga de água se passou aqui? – perguntou o Primeiro-Ministro, levantando-se após o alarme ter cessado o seu toque.
- Chefe, está a passar na “SIC Notícias” um comunicado do Primeiro-Ministro Israelita – disse outro guarda-costa que entretanto entrara no gabinete. – E parece que o gajo tá com um ar fodido.
- Vamos lá ver qual o motivo desta confusão toda. – disse o Primeiro-Ministro, saíndo da sala acompanhado pelos demais ocupantes da mesma, com excepção do mordomo, que entretanto se colocara junto ao cofre do gabinete em reza ladainhada".
(cont)
Dois corpos são encontrados no gabinete do Primeiro-Ministro. Andrei, o motorista do Primeiro-Ministro, está morto. Zulmira, a empregada da limpeza, fingiu estar morta, mas viria realmente a morrer quando tentava a sua fuga do local. No local continuam a encontrar-se o Inspector Serôdio, o Dr. Campos, médico legista, o Primeiro-Ministro e o mordomo do Palácio.
-
“- Voltando ao que interessa. Sr. Primeiro-Ministro, tem alguma ideia do que possa ter sucedido?- perguntou o Inspector, ao mesmo tempo que continuava a olhar para o mordomo.
- Nenhuma. Rigorosamente nenhuma. Aliás, continua perfeitamente aturdido com o sucedido. Tem sido uma verdadeira sequência de surpresas, umas atrás das outras. Nunca pensei que a Zulmira pudesse ter aquela linguagem... quero dizer, já a tinha ouvido usar noutras circunstâncias, mas assim em público nunca pensei que ela pudesse proferir tais expressões...
- Em que outras circunstâncias? – perguntou curioso o Inspector.
- Bom, se quer que lhe diga realmente, foi um destes dias quando, inadvertidamente apanhei a Zulmira em franca troca de intimidades com este senhor – disse, apontando na direcção do mordomo, que arregalou os olhos.
- Comigo, senhor? Nunca! Saiba Vossa Excelência que estes olhos, que a terra há de comer, viu muita coisa nesta vida, mas nunca assistiu a movimentos mais intímos das minhas mãos na direcção de uma qualquer empregadita de limpeza com idade para ser minha filha!
- Quem disse que o senhor estava a mexer com as mãos? Só me apercebi da sua boca a mexer!
- Senhor Primeiro-Ministro, exigo a Vossa Excelência que tenha noção do decoro e se retraia nas suas palavras enquanto é tempo. Olhe que quanto a movimentos de boca, também há muito que dizer sobre o senhor e o falecido motorista!
- Prove, homem, prove! Ou isso ou ponha-se já na rua!- respondeu o Primeiro-Ministro.
- Vossa Senhoria não pode pôr-me na rua. Sou funcionário público. Logo, a sair daqui, só para ser promovido para outro lado, como qualquer funcionário público. V. Ex.ª quer promover-me para que local?
Estava o Primeiro-Ministro preparado para a continuação de um seus famigerados ataques de má disposição, quando, subitamente, começa a entoar uma sirene no interior do Palácio. Em tom longo, apertado e grave. Imediatamente apareceram dois guarda-costas do Primeiro-Ministro no gabinete que o jogaram para o chão e se puseram agachados, em posição de espera, junto ao corpo caído daquele.
- Há quanto tempo! – exclamou o mordomo, atónito com o que estava a ouvir.
- Que barulho é este? – perguntou o Inspector.
- O alarme de ataque ao Palácio. – respondeu o mordomo.
- Ataque?! – disseram os demais em uníssono, com excepção dos guarda-costas, que continuavam agachados e sem dizer palavra.
. A última vez que o ouvi foi no tempo do PREC – continuou o mordomo. – O alarme é activado quando qualquer coisa parecida com um tanque, um porta-aviões ou o Otelo Saraiva de Carvalho se aproxima das instalações do Palácio.
O médico legista dirigiu-se à janela para espreitar. Nada viu, além do corpo de Zulmira, que permanecia lá fora caído no chão.
-Olhe para o céu- disse o Inspector.
E foi então que os viram. Uma quadrilha de doze aviões, ostentando o desenho da bandeira israelita nas suas fusilagens, aproximava-se do Palácio. Subitamente, cada um deles largou duas bombas.
Trinta e quatro segundos depois, o pânico que se instalara entretanto na Rua de São Bento desaparecera. Porque entretanto a Rua de São Bento também desaparecera. Mas o Palácio permanecia intacto, tal como os seus ocupantes.
- Mas o que carga de água se passou aqui? – perguntou o Primeiro-Ministro, levantando-se após o alarme ter cessado o seu toque.
- Chefe, está a passar na “SIC Notícias” um comunicado do Primeiro-Ministro Israelita – disse outro guarda-costa que entretanto entrara no gabinete. – E parece que o gajo tá com um ar fodido.
- Vamos lá ver qual o motivo desta confusão toda. – disse o Primeiro-Ministro, saíndo da sala acompanhado pelos demais ocupantes da mesma, com excepção do mordomo, que entretanto se colocara junto ao cofre do gabinete em reza ladainhada".
(cont)
Sem comentários:
Enviar um comentário