quinta-feira, 8 de junho de 2006

Crime no Palácio de São Bento – Capítulo II

Resumo do capítulo anterior:
Quinhentos mil euros destinados à ajuda militar em Timor desapareceram do cofre pessoal do Primeiro-Ministro no Palácio de São Bento, que não sabe quem há-de- chamar para iniciar a investigação.
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Subitamente, o troar do sino de entrada despertou o Primeiro-Ministro do seu devaneio, levando a que o mordomo, após nova inclinação de saudação, abandonasse o salão e se dirigisse à porta de entrada do Palácio.
Alguns segundos depois, apareceu António Costa, em passo bastante apressado, seguido pelo mordomo, em passo mais vagaroso e olhando de forma repreensiva para a passada menos solene do Ministro da Administração Interna.
- Já sei o que aconteceu – começou António Costa – E então, há alguma pista?
- Já sabes o que aconteceu? Como já sabes o que aconteceu? O que é que aconteceu? – perguntou-lhe estupefacto o Primeiro-Ministro.
- Ó homem, a SIC Notícias não fala de outra coisa nas últimas duas horas!
- Duas horas? Mas o que é que eles estão a notíciar?
- Bom, segundo fontes ligadas ao Palácio de São Bento e à P.S.P., foi dada conta de uma explosão nos aposentos interiores do Palácio de São Bento, tendo sido retirado do cofre pessoal do Primeiro-Ministro uma quantia próxima dos cinco milhões de euros, que se destinava a pagar, sub-repticiamente, os credores mais importantes, entenda-se Mexia e outros, que ficaram a arder com o caso Afinsa.
- Estás a brincar! – exclamou estupefacto o Primeiro-Ministro.- Mas alguém acredita que eu tivesse essa quantia num cofre pessoal?
Novo toque do sino de entrada interrompeu este diálogo. Enquanto António Costa continuava a explicar ao Primeiro-Ministro pormenores da notícia que lhe haviam sido dados pelo telefone pelo seu irmão Ricardo, o mordomo do Palácio saiu e voltou acompanhado, alguns segundos depois, por Alberto Costa.
- Já soube do sucedido. Já falei com o Procurador Geral e ele disse-me que ia enviar a melhor corporação da Polícia Judiciária para investigar a cena do crime e analisar o cadáver.
- Cadáver? Qual cadáver?! – continuava cada vez mais estupefacto o Primeiro-Ministro.
- Meu caro amigo, na última hora o site do “24 Horas” fez publicar que assaltaram o cofre deste Palácio, de onde retiraram documentos comprometedores para a segurança do Estado, tendo sido encontrado junto do cofre arrombado um cadáver de um sujeito cujo físico faz pensar pertencer aos serviços de segurança de algum país de leste.
O Primeiro Ministro virou-se para o mordomo e perguntou-lhe se havia visto algum cadáver junto do cofre.
- Posso garantir a V. Ex.ª que o último cadáver existente junto daquele cofre foi o de uma mosca e foi devidamente removido pela Zulmira na limpeza efectuada esta manhã, senhor.
- Isto já começa a ser demais. O que será agora?
Esta expressão foi dita pelo Primeiro-Ministro na sequência de começar a ouvir o toque do telefone oficial do Palácio de São Bento, o que só poderia significar uma coisa: um dos chefes de Estado mundiais queria falar-lhe.
O mordomo dirigiu-se para o telefone e atendeu-o:
- Sim. Como vai, senhor Presidente? Muito bem, senhor, mas com imensas saudades de V. Ex.ª e da Senhora Primeira Dama. Sim, foram uns dez anos maravilhosos. Já não terei igual. Está sim, senhor Presidente. Vou passá-lo. Só um momento. Sr. Primeiro-Ministro, o senhor Presidente da República Portuguesa deseja falar com V. Ex.ª.
“Tenho decididamente que arranjar um boy socialista para este lugar”, pensou o Primeiro-Ministro com os seus botões.”

(Cont)

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