Qualquer diferença entre...

“-Hoje temos aqui connosco o primeiro caso relatado em Portugal de jornalismo sério. A vítima chama-se António Beringela e trabalha no jornal “Diário da Aldeia”. Muito boas tardes, colega. Como é que isso aconteceu?
- Bom, eu estava a preparar uma notícia sobre a reconstrução da fonte da Aldeia, quando me lembrei de confirmar as minhas fontes sobre o que é que iria ser feito e quando.
- Muito bem. E as suas fontes eram fiáveis?
- Algumas nem por isso, razão pela qual perguntei directamente ao Chefe da Aldeia o que iria ser na fonte da Aldeia e ele respondeu-me que nada iria ser feito porque não havia dinheiro.
- E foi por isso que…
- E foi por isso que não publicámos qualquer notícia na edição de hoje sobre a fonte da Aldeia.
- Muito bem, muito bem. E como considera a notícia hoje publicada pelo vosso jornal concorrente, o “Público Diário”, onde se lê que “Fonte da Aldeia vai ser transformada em santuário de peregrinação franciscana com dinheiros europeus”?
- Bom, se quer que lhe diga a verdade, aqui entre gente séria, o meu editor sugeriu-me que fizéssemos uma notícia com o título “Fonte da Aldeia – Onde a droga e o sexo se misturam com a conivência da Câmara local” e depois invocássemos o testemunho de alguns idosos que lá andaram de mãos dadas e beberam uns quantos chás de ervas.
- E o que falhou?
- O Chefe da Aldeia pediu-nos, em troca de informações prestadas, que falássemos do arranjo, pela Câmara, dos buracos na estrada da Taberna na primeira página. Qui pró quó ou coisa que o valha, disse ele. Foi por isso que não publicamos hoje nada sobre a Fonte da Aldeia na 1.ª página. Falta de espaço, sabe.
- Bom, senhores telespectadores, parece que existiu mais um falso alarme na eventual existência de um elemento sério no jornalismo de notícias diárias escritas em português. Continuaremos, todavia, a nossa busca desse elemento raro e comunicá-lo-emos publicamente para que todos os portugueses conheçam da sua existência”.