terça-feira, 2 de maio de 2006

Primeira Meia-Maratona de Lisboa para desempregados

"Bom-dia, senhores telespectadores, e sejam bem-vindos à primeira meia-maratona de Lisboa para desempregados. Esta iniciativa, inédita em todo o mundo, constitui uma forma que o Ministério do Emprego e da Formação Profissional encontrou para alertar a União Europeia para os números do desemprego que existem em Portugal e para a necessidade de serem canalizadas mais verbas daquela entidade para a resolução deste problema que representa um flagelo na sociedade portuguesa. Ao todo, e de todas as idades e sexos, temos cerca de quatrocentos mil participantes, todos com ânsia de mostrarem o que valem. Sublinhe-se que os três participantes que atingirem as primeiras posições terão direito à celebração de um contrato a termo certo, pelo período de 6 meses, como caixeiros, em três reputadas superfícies comerciais nacionais. Vamos falar com alguns dos participantes. Bom dia, jovem, então, motivado para participar e ganhar?
-Desculpe?
-Vai participar, não vai? Porque é que decidiu participar nesta prova?
-Bom, os gajos lá do meu Centro de Emprego enviaram-me uma carta para casa dizendo que se eu não me inscrevesse, comparecesse e participasse nesta prova, que me retiravam o subsídio. Lá tive de ir à Sport Zone, comprar uma blusinha e uns calções novos da Nike, que os que eu tinha lá em casa já tinham mais de três meses, e uns ténis especiais de corrida.
- Haaa… certo. E está a pensar em ganhar?
- Claro que não. Era só o que me faltava, ir ganhar o salário mínimo para o supermercado quando estou a ganhar mais de mil euros por mês desempregado. Ganhe juízo, homem. Haaa… por acaso isto está a ser gravado? É mentira, é mentira, eu estava só a brincar, tudo o que eu quero é um trabalho, este Governo não presta, não me consegue arranjar trabalho e…
- Já percebemos a sua ideia. Vamos falar com este jovem senhor. Então e você, meu jovem, decidiu participar porquê?
- Antão, eu tava lá em casa, sabe, de repente tocou a campainha, até pensei que fosse a bófia, para minha surpresa é a minha assistente social com um panfleto a dizer que ou eu me inscrevia e participava nisto ou deixava de receber o rendimento mínimo. Não tive remédio, a venda de charros não dá para tudo.
- Ah, o senhor vende peixe?
- Peixe? Nã senhor, vendo erva mesmo. Quer umas ganzas? Faço-lhe um preço jeitoso.
- Deixe lá. Como já repararam os senhores telespectadores, os concorrentes nesta mini-maratona estão bastante animados. A única certeza que temos é que não irá ser um queniano, ao contrário do que é habitual nas meias-maratonas portuguesas, a ganhar esta prova. De facto, o S.E.F. acabou, há cerca de um quarto de hora, de passar por aqui e levar detidos os três quenianos que se encontravam inscritos, ao que parece por se encontrarem ilegalmente em território nacional e sem emprego.”

1 comentário:

Bottled (em português, Botelho) disse...

Senhor Marquês,

Vossa Senhoria teve uma ideia genial. Como o nosso Sócratex não falta a uma corridinha, imagine-o a fazer esta meia-maratona rodeado de desempregados à custa do seu Governo?

Será que sobraria alguma parte dos calções ou um atacador de um dos ténis usados pelo nosso Primeiro para contar a história?

Mais, se bem conheço a malta, o primeiro prémio não iria para aquele que chegasse antes de qualquer outro à meta, mas sim para aquele que ficasse com mais massa corporal do Primeiro... entre dentes!!!!

Hic Hic Hurra