terça-feira, 23 de maio de 2006

Nós, povo de emigrantes, estamos a fazer isto aos nossos imigrantes

Um destes dias estava a tomar a bica num movimentado café da baixa lisboeta quando na mesa ao lado se sentaram dois brasileiros. Dada a proximidade foi-me inevitável ouvir parte da conversa entre os dois. Dizia o mais novo que no armazém onde trabalha lhe pagam 350,00 Euros por mês de salário, sem mais um tostão e sem qualquer tipo de descontos ou regalias sociais. Acrescentava que vive num quarto na Costa da Caparica pelo qual lhe cobram 200,00 Euros/Mês, vendo-se obrigado a usar o passe L123 (48,20 Euros/Mês) para se deslocar para o emprego em Lisboa. Para terminar dizia aquele cidadão ao amigo que gasta cerca de 80,00 Euros/Mês na alimentação (come o quê?!) e que lhe sobram 20,00 Euros/Mês para se vestir, calçar e fazer um ou outro telefonema para a família no Brasil.
É espantoso, não é?!
Mais espantado fiquei quando ouvi da boca daquele imigrante que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras lhe estava agora a exigir um contrato de trabalho válido (que o empregador não faz), rendimentos mínimos equivalentes a 14 vezes o salário mínimo nacional (que o patrão não lhe paga) e situação regularizada com a segurança social (que a empresa onde trabalha não regulariza). A acrescer a isto tem ainda de pagar 480,00 Euros de taxas para poder ficar legal em Portugal.
Ora, ao deixarmos entrar imigrantes em Portugal estamos a estabelecer com eles um pacto enquanto sociedade. Eles dão-nos o trabalho e nós retribuímos com justiça e igualdade de tratamento. Quem está a falhar aqui?
Quantos serão os estrangeiros nesta situação em Portugal?
Já nos esquecemos todos que sensivelmente um terço da nossa nação trabalha no estrangeiro?
E vergonha, não temos?

1 comentário:

Inspector Serôdio, José Serôdio disse...

Irredutível Viriato,

Compreendo a tua mui justa indignação.
Mas não esperaste para ouvir o fim da conversa.

É que o indígena estava a combinar com o colega o ponto de encontro na Alemanha para assistirem «in locco» aos jogos da sua selecção!

E mais:perguntas-te-lhe quem o convidou para vir para cá? É que nós, quando abalamos para a América do Sul nos anos 30 e 40, ou quando tentamos a nossa sorte em França, Suiça e África do Sul nos idos de 60, também nos sujeitamos ao que havia, vencendo pelo nosso valor e tenacidade, ou estás a ver o Le Penn & Cª a mimarnos?...

Ou talvez não te tenham contado como a comunidade lusa em terras de Vera Cruz é benquista pelos otóctones (português = lerdo)...

Não estou aqui a defender nenhuma Lei do Talião ou outro tipo de Vendetta, mas há que contextualizar as coisas.
Por exemplo, não se pode comparar esta vaga de imigração transatlântica com aquela a que assitimos nos últimos anos vinda do Leste da Europa.

«Não faças ao outro aquilo que não queres que ele (ou terceiro) te faça», é certo, mas «em Roma sê romano» e é este respeito e acatamento pela lei e costumes do povo de acolhimento que não vejo ser serguido, de forma generalizada, pelos «caras», tendeu meu chápa?