segunda-feira, 15 de maio de 2006

Na Aldeia, daqui a alguns (poucos) anos...

- Ó Artur, mas que óptima ideia aproveitarmos esta ponte e virmos dar uma volta pela nossa Aldeia.
- E repara a sorte que tivemos com o tempo, Amélia, melhor nem de encomenda.
- Já era tempo dos miúdo conhecerem o país real onde nasceram, desemburrarem daqueles shopings – só conhecem as praias da Linha!
- (gritando) Seus de fedelhos!, larguem as consolas e apreciem esta bela paisagem: a sucessão interminável de montes, o verde puro, os campos sulcados há séculos pela força do homem, que teima em domar a mãe natureza, o perfume das plantas silvestres...
- Artur, que poeta me saíste!...
- E percebam que não estamos em qualquer lugar - estamos mesmo no centro geodésico da Aldeia, o coração da nossa pátria!
(minutos depois)
- Olha, Amélia, está ali um otóctone. Vou perguntar-lhe se estamos no bom caminho:
- Bom dia!
- Oi, cara, tud’ em cimá?
- Bem... hum..., enfim, tudo. Pode-me dizer se vamos na direcção de Vila de Rei?
- Craro, meu chapa: é só você sigui em frentxi, controlá áquelá rótuda logo ali, tendeu?, anda uns trézentos metru, vira à sua dirêta logo ápós o botxiquim e tá em Vila dgi Rei.
- Tá, muito obrigado.
- Váleu, málandro!
- Artur, até aqui, na Aldeia profunda se encontram indígenas?...
- Deixa lá, deve ser o único num raio de quilómetros... deve andar perdido.
- (com irreverência) Ó pai, e quando é que se come?
- (em coro) Pois, tamos cheios da fome!!
- Eles têm razão, querido, já são horas de almoço e não comemos nada desde o pequeno-almoço.
- Ok, hora do rancho! Vê lá aí no guia um restaurante típico aqui da região. (virando-se para trás) Agora é que vocês vão ver o que é comida a sério: quais pizas e amburgueres... a gastronomia aqui é riquíssima e muito afamada.
- Olha, Artur, aqui diz que há um restaurante muito bom, de cozinha regional, mesmo na praça central, entre a Câmara Municipal e o posto da GNR, chamado «O Central Lusitano».
- O livro já tem uns anitos, mas como as coisas boas não se perdem, vamos a ele!
(alguns minutos de condução e...)
- Já chegamos à vila, Artur, é só darmos com a Praça D. Nuno Álvares Pereira. Como é a praça principal do burgo, não deve ser difícil dar com ela...
- Acho que já chegamos... aquele ali a cavalo, se não me engano, deve ser o Condestável...
- Mas ali está uma placa a dizer Praça Getúlio Vargas?!...
- Ó pai, o único restaurante que aqui existe tá ali e chama-se Lanchonete Roque Santeiro!
- Artur, deve ser o tal pois está entre... a Delegacia e a Perfeitura???
...
(alguns segundos, talvez minutos, de silêncio)
- Vamos lá então, que isto já são horas de comer.
- (ao entrar na «Lanchonete») Bem vindos, fórástêros, posso ájudá-los?
- Sim, queríamos almoçar – mesa para 5.
- Lámento, más num vai dá não – a cuzinha já tá féchada.
- Fechada?!?!? Mas como, se são ainda uma e meia??
- Á cuzinhêra pega no sérviço às 11 hora e larga às 13 hora, tendeu? E neesi momento aí tá tá na acadgimia, treinando pró disfili dgi iscolas dgi samba, que vai ácontécê nás festa tradicionau da Vila. Más como vocês são gentxi fina, posso dar uma isquentada no prato do dgia...
- Áh, então sempre poderemos provar um prato regional – vamos então a isso. (sentando-se) Então o que é que nos pode preparar?
- Temos uma bela picanha chégada diretámentxi dgi Minás Gérais, qui ácompanha com feijão preto e àrrôz... prá bêbê, récómendo uma caipirinha, qui àqui é nóssá éspéciálidadgi, e prós minino um guáraná bem géládginho... Ué! Qui cára é essa?... si num gosta dgi caipirinha posso trazê um chôpe – nóssa loirinha é jóia, pódgi confiá!... Ondgi tão indo, pessuau, num tá tudo légau?...
- (de novo dentro do carro) Acho que este fim de semana vem mesmo a calhar para pôr em dia aqueles filmes que tanto queríamos ver... e aquela exposição no Centro de Arte...
- E que tal atacarmos as bolachas que pus na mala, até chegarmos ao McDonald’s de Leiria?...
- Yupi!!!

Os personagens e as situações deste relato são pura ficção; qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

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