segunda-feira, 15 de maio de 2006

Assim falava Zaratus.. Zaratrust... enfim, o gajo do Nietzsche

Boa tarde, senhores telespectadores. Estamos aqui hoje, na abertura da época oficial de fogos, junto do Destacamento da G.N.R. de Mirafogo, onde iremos falar com o Sargento Meireles sobre as novidades que este ano existem no apagamento de fogos pelos militares da G.N.R., na sequência das directivas do MAI.
Boa tarde, senhor sargento, que novidades existem este ano na G.N.R. para a actividade de combate aos incêndios?
- Além dos jipes que o MAI apresentou há dois meses atrás e dos dois helicópteros que o senhor pode ver ali atrás, o mais importante avanço na actividade de apagar fogos em Portugal este ano prende-se com a adopção de uma nova toponímia de alertas.
- Desculpe, “toponímia”…?
- Este ano, em vez de falarmos em “Alerta Bravo”, “Alerta Comanche” ou “Alerta Apache”, ou mesmo em cores, vamos tentar transmitir à população uma imagem de maior modernidade cultural da G.N.R. no combate aos incêndios.
- E como pensa a G.N.R. fazer isso?
- Depois de grande discussão no interior da nossa Corporação, foram decididos cinco níveis de alerta, conotados com a evolução filosófica mundial. Um primeiro nível de alerta, em que recebemos mensagem de incêndio, mas em que não estamos certos da sua existência, passa a ser designado por “Alerta Aristóteles”. Isto porque ainda estamos no domínio das sombras, sabe, a alegoria da caverna e isso tudo, sabe como é. Normalmente enviamos lá um jipe que acaba a coisa com um extintor e com o carro dos bombeiros.
- Bom, peço desculpa pela minha ignorância, mas a alegoria da caverna não era de Platão?
- Pois, também tivemos essa dúvida na nossa corporação, o Cabo Teles também sugeriu isso, mas depois sujeitamos a coisa a votação secreta e ganhou Aristóteles. Bom, continuando, o nosso segundo nível de alerta é o “Alerta Santo Agostinho”. É quando nos chega a notícia de que existe necessidade de um helicóptero ir ao local e descarregar um pouco de água para auxiliar os meios terrestres. Sabe, o reino dos céus e a existência de cidade de Deus lá no ar, etc.
- Percebi. O terceiro nível de alerta?
- É o “Alerta Marx”, situação em que existe uma revolução das massas de fogos existentes e que exige uma maior intervenção de meios no terreno, paradoxalmente, para a salvaguarda dos capitalistas que possuem bens materiais no caminho das chamas. Casas, animais, carros, etc. O quarto nível de alerta é o “Alerta Nietzche”. Já não há Deus que nos valha para salvar aquilo. Só com recurso a “Zaratustra”, ou seja, à ajuda internacional, somos capazes de conseguir controlar as chamas.
- E o quinto nível?
- É o inferno puro. Quem se meter lá dentro ou morre queimado ou sai totalmente queimado e com vontade de se suicidar. È o fogo incontrolável. Achamos adequado dar-lhe o nome de “Alerta Sartre”.
- Interessante. E como é que isso vai contribuir para melhorar o combate às chamas?
- Não é uma questão de melhorar o combate aos fogos, é uma questão de adequar a nossa capacidade de resposta aos fogos. E penso que, com esta nova toponímia, estaremos a contribuir para melhorar a imagem da G.N.R. perante a população no combate aos incêndios. Olhe, a sirene está a tocar. Devemos estar em “Alerta Aristóteles”. Com licença, tenho de ir”.

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