quarta-feira, 22 de março de 2006

Má Temática - Informativos semanários (II - O Independente)

Devo ser dos poucos que acompanhou o Independente desde o início. Nunca foi pelas notícias, foi sempre pelos comentadores que tiveram. Chegaram a ter, simultaneamente, Paulo Portas (o sujeito escreve como poucos, é pena ser o político que é), Miguel Esteves Cardoso, Vasco Pulido Valente e José Magalhães. Pensava-se política, respirava-se política, jogava-se com a política.
Eram irreverentes, independentes e, sublinhe-se, nada isentos. A maioria cavaquista sempre foi o principal adversário do jornal. A parte divertida é que nunca ninguém fez a contagem sobre se Cavaco havia feito cair mais ministros do seu governo, por si, do que as manchetes do “Indy”.
Quando Miguel Esteves Cardoso saiu para a “K”, o jornal perdeu metade da sua alma, inclusive para os leitores.
Quando Paulo Portas saiu, até a vertente política do jornal se atenuou.
O jornal entrou numa sensaboria, em que apenas os comentadores (sempre bem escolhidos) que foram ali escrevendo iam conseguindo fazer sobreviver o gosto dos leitores habituais pelo jornal, apesar das sucessivas mudanças de directores do jornal.
Com a entrada de Inês Serra Lopes para a direcção do jornal, ainda tive alguma esperança de que a vertente política fosse ressuscitada, tanto mais que alguns dos anteriores elementos do “Indy” até estavam no Governo de então. Nada mais errado, dado terem seguido o mesmo caminho do Governo Lopes e passado mais tempo a atacar a oposição socialista por fenómenos criados do que a fazerem verdadeira reportagem política. Por outro lado, o processo “Casa Pia” atravessou-se inevitavelmente no caminho do jornal, dada a relação filial da sua directora com um dos principais advogados do processo, com muitos maus resultados em termos de credibilidade para o jornal.
As demais notícias publicadas ou eram desinteressantes ou não eram relevantes. Apenas a economia e o novel caderno de saúde foram sendo motivo de interesse do leitor.
A parte dedicada ao lazer passou a ser uma zona moribunda, sendo que o Caderno 3 (outras vezes “Vidas”) não é mais do que um morto-vivo, em que as crónicas de Pimpinha Jardim representam a clara decadência da sucessão dos cronistas de envergadura de outrora.
Deixei de ler o “Indy” há quase dois anos. Como eu, outros devem ter seguido o caminho do desalento. Já não existe nada que justique a sobrevivência daquele jornal. Tal como o “Semanário”, vai continuar a perder eleitores todas as semanas até que alguém decida dar-lhe um tiro de misericórdia.

1 comentário:

ENGº. Viriato disse...

Caro Marquês,
O melhor de tudo é que na altura em que tu lias o Independente eu não tinha de o ler: tu contavas-me tudo o que interessava! Ainda poupei uns cobres e o trabalho de ir com o jornal do quiosque até casa...já estou como diz o Zé_Porvinho: estou mesmo cota!