terça-feira, 21 de março de 2006

Má Temática - Informativos semanários (I - Expresso)

Pouca gente em Portugal não conhece o jornal Expresso. Designadamente acima da denominada classe C. As pessoas que vivem em barracas continuam a pensar que é um comboio.
De facto, o Expresso sempre foi um jornal vocacionado para as elites ou com essa pretensão, e que sempre foi lido pelas elites e por quem algum dia sonha lá chegar.
Devo confessar que não faço parte de qualquer uma destas duas classes de leitores. As vezes em que fui obrigado a comprar o Expresso deveram-se a dois tipos de razões: a primeira, quando chegava à banca de jornais ao sábado e não havia mais nenhum semanário para ler, o que se foi tornando cada vez mais raro; a segunda razão, quando o meu progenitor me comunicava que estava na altura das pinturas e que faltavam folhas de jornal para tapar o chão e demais objectos.
E, nessas alturas, um tipo aproveitava para ver se aquilo tinha evoluído ou continuava na mesma.
Sempre continuou na mesma, a que não será alheio o facto do director do jornal ter sido ininterruptamente, durante décadas, o José António Saraiva.
Como era e sempre foi o Expresso?
Um primeiro caderno, supostamente de notícias, em que as curtas de primeira e última página eram normalmente mais interessantes que as notícias longas; as notícias longas regularmente cingiam-se a querelas partidárias ou a recados passados por alguém para publicação para aviso a terceiro, sendo que na parte final da “Direcção Saraiva” aquilo mais parecia o “Inimigo Público”, tantas eram as notícias que viriam a serem posteriormente desmentidas; e ainda tinha a parte do Desporto cuja parte mais relevante era o painel de figuras públicas que apostavam nos resultados futebolísticos do fim-de-semana em apreço.
Um caderno de economia, que normalmente tinha misturado o internacional, em que o mais interessante era, indiscutivelmente, a crónica de José Cutileiro.
Um caderno de arte e espectáculos que, sublinhe-se, era capaz de ser o ponto forte do jornal, e onde eu sempre perdi a maior parte do tempo na leitura.
Um caderno de emprego em que... bom, ainda bem que nunca tive de ir à procura de emprego com base nas ofertas do Expresso (diga-se o mesmo do caderno de imobiliário).
Uma revista que era uma feira de vaidades, de algumas figuras do regime e de algumas pessoas da casa.
Acompanhavam-no constantemente algumas coisitas avulsas que circulavam em virtude do mercado publicitário, mas que não serviam para tapar o chão na altura das pinturas.
E, finalmente, o que deu real fama ao Expresso, o saco de plástico. O qual dava sobretudo imenso jeito aos veraneantes na altura da praia, em que se podia seleccionar qual das partes do jornal não iria apanhar areia.
Mudou a direcção. Tive oportunidade de comprar uma das edições seguintes, com Henrique Monteiro na direcção do jornal. Foram buscar mais alguns comentadores de relevo, o resto continua tudo na mesma. Apesar disso, continua a ser o semanário mais vendido em Portugal. O que em meu entender justificaria um sério estudo de mercado.
Pior do que um Expresso, só dois. E é isso que José António Saraiva quer fazer, ao querer criar um novo jornal semanário. Eu sei que Portugal está mal. Mas estaremos assim tão mal? Será que a novel Entidade Reguladora da Comunicação Social não pode pôr um travão a essa pretensão?
Entretanto, o meu progenitor já começou a falar que tenho de arranjar jornais para nova pintura. Que saudades dos tempos em que a “Bola” tinha aquelas 8 folhas enormes por edição...

4 comentários:

ENGº. Viriato disse...

Aaahhhhh, que saudades da "Bola" com as folhas gigantes...faz-me lembrar as baldas às aulas de matemática...e de físico-química...e de francês...e de geografia...e... a tiragem era só trisemanal...se fosse como hoje, diária, nem tinha feito o unificado! Quanto ao "Expresso", Caríssimo Marquês, tens de admitir que ir comprá-lo e carregá-lo para casa é um excelente exercício de musculação.

Inspector Serôdio, José Serôdio disse...

Qual trisemanal???
Bem me lembro dos idos de 80 em que saia 2 vezes por semana, à 2.ª (resumo da jornada) e à 5.ª (resclado de noite europeia), em belo e nada jeitoso formato tablóide. Era o jornal mais bem escrito de todos, em que pontapés só os havia na bola, sendo a gramática preservda, e bem.
E porque não recordar aquela mítica edição de 1982, com três fotografias sequenciais a toda a largura da 1ª página do penalti marcado por Jordão, sem tomar balanço, em Alvalde, na última jornda do campeonato?...

Marquês disse...

Meu caro Inspector,
Pelo menos desde o início dos anos 80 que A Bola também saía ao sábado, na preparação da jornada do fim-de-semana e rescaldo dos sorteios europeus de 6.ª feira. Por acaso, até era a minha leitura favorita dos sábados, apesar das aventuras do "He-Man" na TV.

Bottled (em português, Botelho) disse...

Caríssimo,

E o Verão Azul?

Ninguém aqui fala do Verão Azul?

E daquela mítica personagem chamada Piraña, que tinha por comida o mesmo gosto que eu tenho por vinho?

Só me falam do He-man!!!!!

Já agora, e a propósito, enquanto assobio a música do Verão Azul, devo dizer que A Bola me deixa enormes saudades, porque apesar de ser um bocado difícil de lidar com aquele formato (sobretudo em dias de ventania ou mesmo nos transportes públicos, quando se ía sentado ao lado de alguém), tenho de admitir que me safou muitas vezes nas aulas. Quando havia alguma pergunta feita pelos "Profs", era excelente para um tipo se barricar! Era certinho e direitinho: ou o Prof fazia que não via, percebendo a mensagem, ou então mandava-me para a rua e eu tinha atingido o meu objectivo: em qualquer das situações não tinha respondido à pergunta!

Bons velhos tempos... como estou cota, caramba!!!!

Hic Hic Hurra