sexta-feira, 4 de novembro de 2005

O Manifesto Político do Tóli

"Boa-noite, Manuela. Estamos aqui directamente da Tasca do Zé, onde dentro de alguns momentos vamos ouvir, em directo, o manifesto político do mais recente candidato à presidência, António Luís Jacinto, mais conhecido entre os meios marginais lisboetas como o "Tóli da Musga". Esta candidatura presidencial foi recebida com grande surpresa pela noite lisboeta, mas tem recebido grandes incentivos e um forte apoio das profissões mais marginais da noite. Ei-lo que chega e dirige-se ao balcão da Tasca, onde está colocado um altifalante para se fazer ouvir no meio da confusão do estabelecimento. Já pôs o altifalante na boca... vamos ouvi-lo".

"Não me resigno. Esta foi a máxima utilizada por um dos candidatos à presidência para apresentar a sua candidatura aos portugueses.
Foi ao ouvir tal expressão e o desenvolvimento do discurso do Cavaco, digo, do Professor Cavaco, que me apercebi que este país precisa realmente de alguém que conheça o povo real, as suas necessidades e ambições, e que saiba satisfazer as exigências dos mais necessitados.
Eu olho para os demais candidatos, e o que vejo?
Homens que andaram em colégios privados e nunca tiveram problemas de dinheiro, que nunca foram enrabados pelo rapaz mais velho lá do bairro e nunca arrumaram carros.
Homens que não compreendem a necessidade de um tipo se injectar ou as exigências sociais dos profissionais do sexo.
Homens que apenas vêem o meio e não vêem as partes envolventes do todo que é a sociedade portuguesa. Vêem o buraco e não vêem as nádegas.
Eu tenho experiência. Eu tenho conhecimento.
Não andei em colégios privados, sempre tive de roubar para ter dinheiro, já fui enrabado pelo gajo mais velho, já me injectei e já fui profissional do sexo. Também já arrumei carros.
Penso ser esta a oportunidade para dar voz aos portugueses que não têm voz. E talvez o destino me tenha escolhido para dar essa voz a esses portugueses.
Há muito para fazer. As minhas propostas são simples e sérias. Desconheço, ao contrário de outros, os limites das funções do Presidente, mas se é a primeira figura do Estado é porque o gajo, quero dizer, o homem, manda mais que os outros e apesar dos outros.
Os portugueses querem saber as minhas propostas. Dir-lhes-ei que são as propostas de qualquer português.
Tenho propostas sociais de largo alcance, como sejam a despenalização da venda e consumo de droga, a permissão da venda livre de drogas nos hipermercados e nas bombas de combustível, e o pagamento mínimo obrigatório de € 10,00 ao arrumador no caso de estacionamento do veículo em parque não pago, e de € 5,00 em parque pago.
Tenho propostas sociais para o aumento do emprego, como sejam o aumento dos parques de estacionamento não pagos, com sequente aumento de espaço de estacionamento para mais arrumadores; o aumento do espaço da mata de Monsanto, do Parque Eduardo VII, e extensão do Intendente ao Rossio, fomentando o espaço para os profissionais do sexo; o incentivo para a criação de pequenos entrepostos comerciais de venda de droga e de serviços sexuais, fomentando-se o pequeno comércio e as PMEs.
Tenho propostas para intervenção a nível de protecção social, com a criação de um subsistema de saúde para os profissionais do sexo e de um subsistema de saúde para os arrumadores de carros.
Também tenho propostas a nível fiscal para a melhoria da situação económica e financeira do país, as quais passam pela obrigação de emissão de facturas para os vendedores de serviços de sexo e de drogas, sendo tais despesas dedutíveis, sem limite, no IRS; pela diminuição da taxa de IVA de 21% para 5% na compra e venda de drogas; e pela isenção do pagamento de Imposto Municipal sobre Imóveis quando os imóveis tenham como finalidade a prestação de serviços de sexo a terceiros.
Estas são apenas algumas das minhas propostas iniciais.
Outras aparecerão na sequência do meu contacto com os portugueses.
Quero apenas que os portugueses saibam que a única finalidade que me motiva é o seu bem-estar, e nunca o poder ou o ordenado de presidente, que sempre sobrevivi sem eles e poderei continuar a sobreviver. Ao contrário dos outros candidatos.
Eu tenho confiança em Portugal e no futuro de Portugal.
Viva Portugal! Boa noite".

"Bom, o candidato saiu do balcão da Tasca sem responder a quaisquer perguntas dos jornalistas. Voltaremos aqui se entretanto existirem novidades. Volto ao estúdio contigo, Manuela".

Sem comentários: