quinta-feira, 27 de outubro de 2005

Pânico no talho

"Arrepio-me todo de cada vez que me lembro", confidencia-nos o Sr. Fernando Leitão, dono do "Talho Fernando", em Rio de Aves. O pavor e o pânico assaltaram a vida do Sr. Fernando no dia de ontem, quando foi alvo de uma visita inesperada por parte de inspectores da Direcção-Geral de Veterinária.
"Tinha eu regressado do almoço e estava a picar a carne encomendada pela Dona Alzira para fazer uns hambúrgueres de carne de vaca, quando me entram pelo talho adentro quatro indivíduos todos tapados com aqueles fatos brancos que a gente vê na televisão e que dizem ser anti-radioactivos, em que só se vêem os olhos dentro do plástico de um visor, e que apenas me perguntaram "onde é que tão elas?". Eu pensei que os gajos fossem daqueles novos gangues que por aí andam, dos skins, uma vez que eram todos brancos, e disse-lhes que as notas estavam na caixa registadora. "Não é isso", disse um deles "somos da Direcção-Geral de Veterinária e recebemos uma comunicação anónima nos nossos serviços afirmando que aqui estavam aves mortas. Onde é que elas estão?". Apontei para os pedaços de frango e para as moelas que estavam no expositor frigorífico do talho, à venda por cinco euros o quilo, aliás é aqui no meu talho que se fazem os preços mais baratos da zona na venda de carnes, não sei se já disse isso. Olharam para o sítio para onde eu apontara e um deles perguntou-me se eu sabia de que forma tinha morrido aquela ave. Respondi-lhes que não sabia, mas que provavelmente tinha sido de morte natural, uma vez que é natural os frangos terem de morrer para serem vendidos no meu talho, que eu só vendo carne morta. Eles olharam então uns para os outros, agarraram nos pedaços de frango e nas moelas e meteram-nos num saco de plástico com umas pinças, tendo em seguida dois deles agarrado em mim e me espetado uma seringa no braço. Só vim a acordar no Hospital de Santa Maria, onde verifiquei ter vários pensos nos braços e nas pernas, bem como nas nádegas. Disse-me então uma senhor enfermeira que eu podia estar descansado que tinham sido feitas todas as análises e que não sofria de gripe das aves. Que eu não tinha gripe já sabia! Escusavam de terem feito aquele circo todo e me espetado uma seringa por causa de uma provável constipaçãozita. Saí, e quando voltei ao Talho, deparei-me com um aviso na porta, declarando-o encerrado e em quarentena até saberem o resultado das análises da carne que levaram. E agora, como é que vou ganhar o meu pão? E os hambúrgueres da Dona Alzira, quem é que os acaba de picar?".
Desesperado, o senhor Fernando já recorreu às mais variadas instâncias deste país, mas todas dizem-lhe o mesmo, que tem de aguardar o resultado das análises.
Não tendo rendimentos, o senhor Fernando tem conseguido sobreviver graças à ajuda de alguns amigos e ao seu passatempo favorito, a caça, que lhe vai proporcionado alguma comida avícola, designadamente de algumas aves migratórias que vão atravessando o nosso país nesta altura do ano.
Contactada a Direcção-Geral de Veterinária, ninguém quis prestar declarações sobre este assunto.

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