segunda-feira, 17 de outubro de 2005

As promessas e os bónus

Os nossos aldeões já começaram a reparar que o Governo socialista está a especializar-se na arte do cumprimento de promessas que são populares e por isso amplamente divulgadas, mas que simultaneamente trazem bónus que tentam fazer passar despercebidos na mensagem transmitida à opinião pública.
Passo a explicar.
O Governo disse que ia baixar os preços dos medicamentos. Efectivamente baixou-os. Mas o que não disse, e tentou fazer com que tal notícia passasse despercebida, é que iria também baixar a taxa de comparticipação do Estado no pagamento da maioria dos documentos, não fazendo qualquer distinção entre os economicamente mais carentes e os outros. Ou seja, todos os portugueses, ricos, remediados ou pobres, passaram, na prática, a pagar mais caro os seus medicamentos.
O Governo disse que ia colocar mais polícias na rua. Para além de já os ter colocado na rua em manifestação, percebeu-se que a promessa não passaria pela admissão de um maior número de agentes para a carreira, mas pela retenção dos existentes na carreira até aos sessenta e cinco anos. Os criminosos, cada vez mais jovens hoje em dia, agradecem a benesse.
E agora temos o notável esquema do orçamento de Estado para 2006. O Governo "espalhou" para quem quisesse ouvir, que não iria aumentar impostos em 2006. O inacreditável foi não dizer aos portugueses que iria diminuir as taxas de incidência sobre as matérias dedutíveis. Ou seja, e na prática, aumenta a cobrança fiscal sobre o contribuinte porque a matéria dedutível torna-se menor. Com o consequente aumento das receitas fiscais e a diminuição da preocupação anual com o envio dos cheques de reembolso aos portugueses.
Como se vê, são todas grandes medidas governamentais necessárias para o saudável desenvolvimento económico de Portugal. Tal como a Ota e o TGV. Com o cidadão português a passar por tolo por sua exclusiva culpa, como atestam os quase 2 milhões de votos que o PS teve nas últimas eleições autárquicas.
Penso que de demagogias estamos todos fartos. E de termos um Estado socialmente injusto. Aliás, e a este propósito, ainda não percebi a lengalenga de que uma das diferenças entre a esquerda e a direita partidária é a de que a esquerda defende de forma prioritária uma maior justiça social. Mas o partido do Governo que está no poder não é de esquerda?
Se isto tudo se tivesse passado durante o Governo de Santana Lopes, penso que o Presidente da República já teria dissolvido a Assembleia da República pelo menos por três vezes, após larga e longa pressão dos media e dos comentadores políticos do costume.

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