sexta-feira, 30 de setembro de 2005

Os Livros do Alves e Companhia

Confesso que a minha curiosidade foi despertada pelo último post da companhia do Alves sobre o facto de se encontrar fora de moda relativamente aos livros que se encontram nos tops das livrarias.
Por essa via, entrei na livraria Bertrand que me estava mais próxima e, ao mesmo tempo que aproveitava para fazer um pequeno exercício de memória que costumo fazer de vez em quando para ver como está a minha memória fotográfica, vi o denominado top ten da livraria.
Não fiquei tão chocado como o Alves, mas fiquei algo surpreendido.
No 4.º lugar figurava o conjunto de livros do Sodoku. Isto é irreal. Primeiro porque se tratava de um conjunto de livros e não de um livro. E depois porque cada uma daquelas coisas não é um livro. Serão antes revistas de passatempos com uma capa mais dura e que são vendidas nas livrarias. Ponto final. Não contam qualquer história. Não obrigam a qualquer raciocínio filosófico. Não são morais, imorais ou amorais. Não nos fazem chorar. Não nos fazem rir. Não nos fazem sonhar.
Nos 5.º, 8.º e 9.º lugares figuravam livros que, esses sim, estão completamente fora de moda. Anjos e Demónios tem muitos meses, O Código da Vinci e o Eragon já têm barbas sinónimo de velhice. Já quase todas as pessoas que lêem livros neste país os leram. Não percebo o motivo de continuarem a ser alvo de contínua aquisição em grosso, atentas as suas posições no Top 10.
O 10.º lugar encontra-se ocupado por um livro de Manuel Alegre, O Quadrado (e outros contos). É preciso explicar porquê? Todavia, o escritor é um bom escritor.
O 1.º lugar encontrava-se ocupado por Eldest, o segundo volume da trilogia da herança de Christopher Paolini. Eu sei que o Alves não gostou do Eragon, mas também sei que não o leu todo. A magia do Eragon está não só na história e no universo que são criados por um jovem imberbe, mas também pelo acompanhamento que fazemos, ao longo da leitura do livro, do próprio amadurecimento do escritor e da sua escrita. Lembro-me de ter comentado, relativamente ao primeiro capítulo do Eragon, que eu era capaz de ter feito melhor na altura em que andava na 4.ª classe, mas também reconheci posteriormente que jamais seria capaz de escrever, por falta de talento da minha parte, algo como alguns dos episódios finais do livro. Aliás, tenho imensa curiosidade em saber até que ponto evoluiu Paolini neste segundo livro. Se continua em crescimento ou se, pelo contrário, a pressão do 2.º livro fez-lhe o mesmo que a J.K. Rowling na passagem do 3.º volume para os demais da série de Harry Potter.
O 2.º lugar é ocupado pelo O Confessor, de Daniel Silva. Ainda não o li, mas está na longa fila de espera formada nas minhas estantes. A sinopse pareceu-me atractiva, mas quantas sinopses bem elaboradas não correspondem, muitas vezes, ao mau conteúdo do livro?
O 3.º lugar não merece, por ora, quaisquer reparos. Luís Sepúlveda continua a ser, na minha modesta opinião, um dos melhores escritores contemporâneos da língua hispânica, e tenho alguma curiosidade em saber o que fez com Mario Delgado Aparain nestes Os Piores Contos dos Irmãos Grimm.
O 7.º lugar pertence a um livro de Jim Dwyer e Kevin Flynn, 102 minutos, em que se faz o acompanhamento do sucedido a 11 de Setembro nas Torres Gémeas.
Por fim, e em 6.º lugar, aparece-nos Nicholas Sparks, com o seu Quem Ama, Acredita, autor esse que eu não amo e em quem não acredito.
Meu caro Alves, tirando o Sodoku e o Nicholas Sparks, e com desconhecimento de causa relativamente ao 102 minutos, não sei do que falas. Tudo o demais já li ou irei ler. E não me considero um leitor de livros popularuchos. Gosto de livros sobretudo bem escritos, que me façam pensar ou sonhar. E que contenham uma boa história. Umas vezes só para divertir. Outras para reflectir. Se os outros também os lêem, tanto melhor. As boas histórias foram feitas para serem lidas. O Eça, o Homero e o Cervantes não estão no top 10 de vendas: paciência.
Por isso, vê lá se chamas nomes aos bois. Por outras palavras, diz lá do que não gostas do que te aparece nos tops que é para clarificarmos de uma vez por todas se estás ou não fora de moda.
Em jeito de post-scriptum, sempre direi que no que toca ao exercício de memória efectuado relativamente ao top esqueci-me de dois livros após sair da livraria: o de Daniel Silva, talvez por ainda o não conhecer enquanto autor, e o de Manuel Alegre, por reacção alérgica do meu subconsciente à memorização de determinados nomes.

1 comentário:

Marquês disse...

Concordo contigo quanto ao marketing, mas não quanto ao timing. Um bom livro lê-se em qualquer altura. Independentemente do marketing existente.