quarta-feira, 28 de setembro de 2005

Livros nas margem da moda

Que em Portugal se lê pouco (apesar de, segundo se diz, editar bastante), que no nosso país se lê mal, não é novidade para ninguém (pelo menos para aqueles que lêem, pois normalmente os resultados destes inquéritos aparecem por escrito). Agora, o que realmente me espantou ao analisar um “top” das vendas de livros seleccionados pelos portugueses é que, juntando ao pouco e mal que se lê, não exista verdadeiramente um sentido critico e alternativo às leituras de best-seller.
Explico em poucas palavras: Dos 10 títulos mais vendidos em Portugal no último mês (considerando as vendas de uma das grandes livrarias implantadas no nosso país), respectivamente cinco em ficção e outros tantos em não ficção, todos eles são livros da “moda”. Nem um único título reflecte uma leitura realmente alternativa, diferente, digamos, ousada. É claro que vivemos numa sociedade orientada para uma atitude de consumo e de mercado. Seria ingénuo considerar que os ditames da publicidade, do marketing da indução na compra não afectassem os livros e, consequentemente as escolhas do consumidor. As editoras são empresas, logo estão vinculadas a interesses e necessidades de mercado. Admito que assim seja, embora me custe. Custa-me, basicamente, perceber neste “top” que os que lêem, afinal de contas o fazem por moda, da mesma forma que conduzem o carro da moda, vão às lojas da moda, usam as frases e os trejeitos da moda.
Os livros devem ser, antes sim, um objecto de procura individual, de encontro, resultado de uma construção pessoal, de escolhas e de gostos próprios. Escolher um livro longe dos ditames da moda e, acima de tudo, uma revelação de liberdade e maturidade intelectual.
Claro que esta atitude revela um caminho longo de aprendizagem, de aprofundamento de uma personalidade critica. Claro que tudo isto dá trabalho, porque vai ao encontro do essencial, atitude em contra-corrente com uma sociedade que procura o acessório e o fácil (por isso as modas, sinónimo do que é imediato, do que é sugerido e imposto a cada estação).
O livro trata-se como um objecto de intimidade, uma oferta que fazemos a nos próprios, que acolhemos no nosso espírito e que, eventualmente, quereremos partilhar com outros que, igualmente reconhecemos como verdadeiros amantes da leitura e dos mundos (isso mesmo, um plural) que os livros encerram.
Pessoalmente afirmo: adoro estar fora de moda.

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