terça-feira, 29 de julho de 2008

Ninguém me tira da cabeça que o gato do nosso Zé esteve metido na coisa

" O indivíduo que baleou os vizinhos por acreditar que um deles, pelo facto de ser homossexual, estaria a sodomizar o seu gato foi hoje condenado, no Tribunal São João Novo, Porto, a cinco anos e seis meses de prisão efectiva. O juiz presidente do colectivo, na leitura do acórdão, disse: "dar um tiro em alguém por ser homossexual e por supostamente ter tido relações sexuais com um gato que ajudou a resgatar, e por isso o animal ter ficado paneleiro, é talvez o motivo mais torpe que eu já vi na minha vida".
O indivíduo que baleou os vizinhos por acreditar que um deles, pelo facto de ser homossexual, estaria a sodomizar o seu gato foi condenado, no Tribunal São João Novo, Porto, a cinco anos e seis meses de prisão efectiva.
José C..., 53 anos, empregado de mesa há 32, foi condenado pelos crimes de homicídio na forma tentada e detenção de arma proibida.
O tribunal deu como provado que, em 27 de Outubro de 2007, José ....pediu a Anabela ....(atingida pelos disparos), que se encontrava no pátio das habitações, que a ajudasse a resgatar o seu gato que havia fugido para um terreno contíguo.
Na impossibilidade de Anabela ... poder responder à solicitação do arguido, o vizinho José Pedro...., que estava à janela da sua habitação e se apercebeu da situação, prontificou-se a ajudar no resgate.
Quando José C.... viu José Pedro a tentar apanhar o gato começou a proferir expressões injuriosas sobre a sua orientação sexual.
Assim que consegue capturar o animal, o vizinho de José C... desloca-se para a habitação do arguido, ficando Anabela ...no pátio, onde foi atingida pelos disparos de uma pistola Browning, de calibre 6.35, pertencente ao arguido.
Provou-se ainda que José C...a acreditava que a pessoa no pátio era José Pedro e estava convicto de que "este era homossexual e que pudesse ter havido contactos de natureza sexual entre o vizinho e o gato".
No seguimento dos disparos, Anabela ..., professora de ensino secundário, foi transportada para o hospital de São João onde foi submetida a uma intervenção cirúrgica da qual resultou uma cicatriz de 23 centímetros. O tribunal deu ainda como provado que José C... agiu deliberada e conscientemente com o propósito de tirar a vida a José Pedro, considerando a sua postura durante o julgamento "profundamente desconcertante" e com um "comportamento homofóbico".
Durante as buscas policiais foram encontradas 38 munições em casa do arguido, conhecido por "Zé Pistoleiro", como contou Maria ...., tia da ofendida.
O juiz-presidente, João Amaral, considerou que o motivo que desencadeou os factos "é torpe". "Dar um tiro em alguém por ser homossexual e por supostamente ter tido relações sexuais com um gato que ajudou a resgatar, e por isso o animal ter ficado paneleiro, é talvez o motivo mais torpe que eu já vi na minha vida", frisou o magistrado.Esse motivo é revelador "de uma insensibilidade atroz pela pessoa humana", referiu João Amaral lembrando o caso do transexual Gisberta que morreu às mãos de jovens menores e comparando o comportamento destas com o do arguido.
José C.... foi ainda condenado ao pagamento de mais de 22.000 euros pelos danos patrimoniais e não patrimoniais causados a Anabela Silva.
À saída da sessão Luís Manuel Silva, advogado do arguido, referiu ainda ser prematuro exprimir qualquer opinião sobre a sentença, admitindo porém que "se não houver matéria suficiente para recorrer parece que a pena é equilibrada". José Luís Quelhas, advogado da assistente Anabela Silva, admitiu que a cliente possa achar que a pena devesse ser superior mas não pensa recorrer da sentença."
in Jornal de Notícias, de 28.07.2008

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