sexta-feira, 27 de junho de 2008

A Little Respect

O que aconteceu em Santa Maria da Feira e em Vila Real com magistrados representa apenas a ponta de um icebergue de uma sociedade portuguesa cada vez mais decadente.
O Estado não se dá ao respeito.
Logo, não pode exigir respeito.
Que respeito se pode exigir quando se alarga a impunidade dos infractores, alterando-se códigos penais e atenuando penas em função de um processo de pedofilia que atacou o mundo político?
Cada vez mais as pessoas percebem que podem fazer tudo e que nada lhes acontece.
Não há consequências.
É por isso que me rio cada vez que ouço um político dizer que tem esperança num Portugal de futuro.
Eu não tenho.
Porque o presente é a base para o futuro de amanhã.
E o que nós temos hoje?
Temos os pais de hoje, orgulhosamente antigos frequentadores de escolas públicas, cada vez a fugirem mais de colocarem os filhos nestas como o diabo da cruz. Não ponho as culpas nos professores, mas no sistema de ensino. Bons e maus professores sempre existiram. Sistema público como este é que não.
Temos um sistema em que as crianças até aos 16 anos nunca são más. O problema é que a partir dos 16 anos já são más há muito tempo, e o Estado nada pode fazer para corrigir os vícios adquiridos. Alguém acredita que o internamento dos miúdos em centros educativos sirva de algo? São pré-prisões em que os miúdos se divertem antes de poderem entrar no engraçado mundo dos estabelecimentos prisionais a sério.
Temos um sistema de saúde em que temos de importar médicos de Espanha, Roménia ou Cuba. A culpa não é decerto dos médicos portugueses, que têm todo o direito de lutarem por se encontrarem onde lhes possam fornecer melhores condições de trabalho.
A justiça encontra-se no estado em que se encontra, em que não só esquece a segurança e a protecção das vítimas, como também a dos próprios magistrados e polícias.
A pesca desaparece, a agricultura para lá caminha.
Não há incentivo das profissionais tradicionais.
E reina cada vez mais o medo nas ruas.
Quantos de nós, ao andar de carro, ao parar numa bomba de combustível, ao tirar dinheiro numa caixa Multibanco, ao caminhar nas ruas de Lisboa, não pensarão que poderão ser finalmente alvo daquelas coisas que normalmente só lemos nos jornais ou vemos na TV?
Quantos daqueles, que têm filhos em escolas públicas, não viram já dinheiro ou telemóveis roubados ou furtados aos miúdos?
Enquanto isso, os membros do Poder não querem saber.
Têm segurança própria, têm os filhos em colégios privados no estrangeiro, têm médico particular, fazem as leis que lhes convêm às situações que lhes aparecem.
É impressão minha ou estamos cada vez mais parecidos com o Zimbabué?

Sem comentários: