sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

TriButtho a Benazir (post-mortem)


Sinceramente não consigo compreender esta forma fundamentalista de fazer política eliminando-se os adversários.
Qual o preço da vida humana?
Hoje, por dá cá aquela palha, tira-se a vida a uma pessoa.
Não foi só a Benazir Buttho, foi a mais umas quantas pessoas que estavam naquele comício, ferindo-se outras, e tem sido a um cada vez mais triste infindável número de pessoas que, de forma inocente, por azar das circunstâncias, estão no lugar errado à hora errada.
É o drama do terrorismo ao mais alto nível.
Dir-me-ão que o país em questão, a zona geográfica em questão, é um campo minado.
Concordo.
Mas se o é, tal fica a dever-se à obra de umas quantas cabeças iluminadas que, verdadeiros instigadores da prática dos crimes, não podem permanecer impunes.
Não tenho, confesso-o, opinião formada, ao nível político, sobre Benazir Buttho, mas a sua conduta política, tenha sido culpada ou não dos crimes pelos quais foi acusada durante o tempo em que liderou o Governo do Paquistão, por duas vezes (foi a primeira mulher a ascender a tão elevada posição política naquele país e naquela zona, o que deve relevar precisamente porque se destacou num campo reservado apenas aos homens), não poderá servir de desculpa para a barbaridade do acto que lhe custou a vida, a si e a quem a rodeava.
A vida humana já é, por si mesma, frágil.
À La Palisse diria que para morrer basta apenas estar vivo.
Não acham, contudo, inquietante a forma como se assassinam pessoas nos dias que correm?
O conflito é algo que existe. Sempre existiu. E, ao longo dos séculos, já o referi por incontáveis vezes, actos de verdadeira selvajaria fizeram manchar a Grande História da Humanidade. Mas poderá alguém, em boa verdade, apurar o custo de tais actos? Quem substitui as pessoas assassinadas junto dos seus? Quem suporta tais danos, físicos e psicológicos?
Ghandi, Luther King e muitos outros foram assassinados apenas porque buscavam para si e para os outros aquilo que a consciência lhes ditava.
A forma como se silencia a voz que contra nós fala, pelos vistos, é cortando-lhe a força, à força.
Todos os políticos esperam, agora, a uma só voz, que este brutal acto não afecte o processo de democratização de uma Nação, que estava em curso.
Mas, no fundo, todos eles sabem que existe já um dano irreversível: Benazir não mais incomodará, com a sua voz, certas e determinadas pessoas que, lá do pedestal onde estão e no meio de intrigas políticas que estão inacessíveis a nós, meros mortais, conseguiram convencer um pobre diabo que matar outra pessoa, suicidando-se de seguida e levando com ele para a morte quem ali estava, era o seu dever supremo. Sem que esse pobre diabo, de tão obnubilado que estava com falsas promessas de glória eterna pela prática de um acto heróico, se tenha atrevido a questionar-se, intimamente, sobre o motivo de não terem os seus mandantes, eles próprios, que o fizeram acreditar em tais mentiras (transformando-as em verdades absolutas e inquestionáveis), tido a coragem de colher esses louros, cometendo eles o hara-kiri.
Estas e muitas outras questões devem fazer-nos reflectir sobre a fragilidade das nossas vidas, quando colocadas num prato da balança junto de outros interesses.
Prato da balança que, ao que parece, já não é controlado por uma entidade divina (seja ela qual for), mas sim por quem tem o poder absoluto de determinar o final da existência de um seu semelhante.
Por isso é que nunca me esqueci daquela frase que li algures, numa altura em que alguém filosofava, com toda a propriedade, a respeito da forma como esta vida deveria ser encarada: vive a tua vida de forma intensa, como se este fosse o último dia que te fosse concedido à face da Terra, pois pode muito bem ser esse o caso!
Para reflectirmos, quando tivermos vagar e se não formos, também nós, fundamentalistas nestas matérias...
Hic Hic Hurra

2 comentários:

Rabodesaia disse...

Parabéns vizinho,
está excelente este post!

Ticha disse...

O Poder Absoluto, se olharmos para a história da Humanidade lá anda o dito cujo de século em século em século...se olharmos para o dia-a-dia e para o que nos rodeia, de proporções inferiores às referidas aqui, mas o Poder é por ele que se luta....