quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Um mistério chamado D. Sebastião - um pouco da nossa estória em suaves prestações diárias



(continuação)

PARTE XII

Como a desproporção das forças em conflito era gritante e o nevoeiro teimava em não desaparecer, o destino do combate cedo ficou traçado, não sem antes duas criaturas pequeninas que pareciam crianças terem passado a correr pelo campo de batalha, levando uma delas um anel preso ao pescoço, as quais foram, pouco tempo depois, seguidas por um estranho ser curvado, escanzelado, com uns fios de cabelo a saltar da epiderme capilar e com uma cara de meter medo ao próprio susto que gritava, a plenos pulmões e numa voz que fez gelar todos os heróicos combatentes de ambas as facções: "Precious... I want my precious... Give it back my precious... Gollum wants his precious... Gollum needs his precious... The precious is mine...".
Meia hora após esta estranha ocorrência, passou um velhote velozmente num cavalo branco, munido de um cajado, com umas estranhas vestes e um chapéu pontiagudo na cabeça, que estava a ser seguido por perto por dragões com umas criaturas esquisitas montadas neles e por um interminável exército de horrendas e monstruosas aparições com as quais D. Sebastião, como medida de último recurso, tentou parlamentar de maneira a com elas formar uma aliança que lhe permitisse derrotar o Isaac Rabino, o Mourinho e as forças de Ivan Abramovich, o Terrível.
No entanto, apenas metade da delegação que foi enviada, em sinal de paz, para parlamentar com o líder dos temíveis seres desconhecidos regressou ao acampamento, o que desde logo indiciou que eles não iriam assumir posição por qualquer dos lados e que estavam empenhados num outro assunto, cujo alcance escapava ao próprio Rei.
O nosso soberano apercebeu-se inteligentemente disso sobretudo a partir do momento em que reparou que a metade da delegação enviada que regressara, montada nos seus aterrorizados corcéis, era literalmente a inferior, mais precisamente a partir da cintura para baixo.
Assim, a derrota foi total e esmagadora para as forças portuguesas, tendo perecido e desaparecido nesta batalha a maior parte da nobreza e o próprio D. Sebastião.
Foi D. Pedro da Selva Porreira quem, banhado em lágrimas de crocodilo, deu a triste notícia ao povo, através da emissora nacional, interrompendo a primeira emissão ao vivo dos Parodiantes de Lisboa, bem como a todos os que se encontravam presentes no pátio do Castelo de São Jorge: El-Rei havia sido dado como morto e não deixara descendência ao trono.
Sucede-lhe, então, no trono de Portugal o seu tio-avô, D. Fócrates, o secundador, mas este também vem a falecer (e ainda dizem que a história às vezes se repete) em 1580, igualmente sem descendentes (com franqueza, e só hoje é que nos preocupamos com as baixas taxas de natalidade do nosso país!!!! O exemplo deveria vir de cima, não era?).
Aliás, as más línguas da época diziam ter sido ele o impulsionador de uma medida que somente séculos volvidos seria implementada.
Falamos, é claro, do alargamento da Via do Infante, mas não existem documentos capazes de sustentar tal teoria e há até, na imprensa cor-de-rosa da época, um breve referência a um episódico caso amoroso numas férias passadas na ilha de Malta, num resort de luxo explorado pela Ordem Hospitalar de São João de Jerusalém, na companhia de uma cortesã alemã chamada Kanziu, onde recuperava de umas confusões surgidas a propósito da autenticidade do documento que o apresentava como tio-avô do desaparecido D. Sebastião.
Cria-se, então, um vazio na sucessão monárquica, o qual só irá ser preenchido quando Filipe II de Espanha, por mero acaso, atravessou as fronteiras numa caçada ao javali e escutou uma conversa entre dois camponeses portugueses que diziam mal da vida e do facto de tudo ser uma anarquia no país, que se encontrava sem Rei nem Roque (a famosa frase começou nesse preciso momento e deve ter ganho pilhas Duracell, porque perdura, e perdura, e perdura...).
Daí à invasão pelos espanhóis foi apenas o tempo que D. Filipe levou a digitar e enviar uma sms para o Comandante-Geral do seu exército, pelo que não tardou a que, por via da força, fosse aclamado Rei de Portugal nas Cortes de Tomar, em 1581, sobrepondo-se a Catarina de Bragança e a D. António, Prior do Crato (a quem terá doído mais a sobreposição, ousamos nós alvitrar), dando assim início a sessenta anos de reinado espanhol em Portugal, o qual só viria a terminar com a Restauração em 1640.
(a continuar)

Hic Hic Hurra

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