quarta-feira, 27 de junho de 2007

A propósito de uma temática que começou a ser desenvolvida em comentários a um post do Zé

É que a entendo sobremaneira interessante para que fique para ali confinada em comentários de há uns dias.

Atribui-se a seguinte história a Einstein:

Numa aula, já na universidade, o professor, ateu confesso, esforçava-se por negar a existência de Deus aos seus alunos, nomeadamente fazendo-os ver que se Deus existisse e fosse bom como o pintavam, decerto que não teríamos guerras nem sofrimento.
Vai daí, o jovem génio pede a palavra e pergunta ao professor se sabia o que era a escuridão. O professor, preplexo, ainda ballbucia umas explicações, ao que Einstein responde «a escuridão é a ausência de luz» e logo volta à carga: - sabe o que é o frio? Após silêncio de toda a classe, o judeu alemão responde «frio é a ausência de calor». De seguida, pergunta se sabe o professor o que é o silêncio. Responde depois que «silêncio é a ausência de som».
Aproveitando todas estas noções emergentes da ciência (física), o Homem da Teoria da Relatividade chega à seguinte conclusão: o sofrimento é a ausência de Deus!

Podemos questionar a natureza não interventiva de Deus ou açguma selectividade nessa intervenção. No final, todos concordarão, tudo se resume a uma questão de fé: acredita-se ou não.
Mas, algumas achegas:
- se Deus andasse sempre a corrigir ou a impedir os mais procedimentos humanos, kaput para a nossa liberdade individual, deixando de fazer sentido a nossa existência;
- e já agora, o que é certo e o que é errado?...
- acredito que não se salvam apenas aqueles que professam certa ou certas religiões, mas todo aquele que segue uma vida recta e justa;
- quanto à conversa de Deus atender aqueles que o invocam, isto radica na força da oração sincera e comprometida em que acredito, não em qualquer negócio ou «troca de favores»;
- daí que o melhor caminho para a mudança dos corações dos homens não seja pedir uma intervenção divina estilo fada madrinha, mas antes pelo exemplo, pelo anúncio e pelo perdão (sim, é difícil, eu sei!), pedindo o auxílio de Deus para esta árdua tarefa.

Agora, pode sempre ser mais fácil cruzarmos os braços e culpar Deus por todas as atrocidades que se cometem ou mais cómodo para as nossas consciências negar a sua existência apenas porque o mal existe e assim não termos que prestar contas a ninguém pelas nossas acções marotas (porque verdadeiramente más não cometemos nós, não é assim?).
E infinitamente mais confortável criarmos um Deus à nossa imagem e semelhança, que não exija muito nós, que não manda perdoar aos que nos maltratam e sancione as nossas vingançazitas, que justifique os nossos egoísmos e compreenda a nossa mesquinhez porque há sempre outros mais aforunados...

Isso de termos de ler a Bíblia e encontrar para lá aqueles mandamentos (latu sensu) estilo oferece a outra face a quem te bateu , ter de cumprir certos ritos - que chatice, e perder o CSI! - ou sentir o apelo da partilha generosa, é que não - isso é para os santos.
Eu cá perfiro levar esta minha vidinha pacata, não faço mal (pelo menos em quantidade apreciável) a ninguém, quero que os outros me tratem como mereço (ou seja, bem) o meu próximo é a minha mulher/maridos e os meus filhos, e desde que não abusem da sorte!

E depois, temos sempre aquela má experiência da infância, em que a catequese era uma seca e desligada da realidade (de facto era) e os maus exemplos que também surgem do lado institucional da Igreja para justificar a nossa não frequência dos sacramentos e podermos afirmar, com toda a convicção, sou católico mas não praticante.
E à cautela, convém sempre dar um pulo lá à paróquia para baptizar os nossos petizes, pois nunca se sabe... e já agora para casar, pois noiva que se preze tem de entrar, deslumbrante, de véu pela mão do pai numa igreja e caminhar, altiva, até ao altar (mas já exigirem que nos preparemos para receber o sacramento do matrimónio - que seca!); o mesmo altar onde mandamos rezar missa pelos nossos queridos defuntos, pois aquela história do purgatório nunca me largou e cautelas e caldos de galinha...; e o menino, em chegando aos 6, toca de ir à cateques e fazer a 1.ª comunhão, que não é menos que os outros e sempre pode ser que aprenda alguma coisa de útil (lá o quê?...).

Recordo com grande admiração uma colega de faculdade - nunca mais a vi - que no último ano do curso, na altura em que se aproximava a habitual missa da benção dos finalistas, a que ninguém queria faltar porque..., enfim, porque era da praxe, disse que não ia à missa porque não acreditava no Sacramento da Eucaristia e que achava que seria uma tremenda hiporcrisia assistir a tal evento.
E, digo-vos, fui, por convicção, e vim de lá super decepcionado - que expectáculo mais triste e degradante!

Tenho-me referido à religião cristã (e dentro desta à católica) por ser aquela que predomina, de forma esmagadora, no nosso país.
Mas nada tenho contra as outras confissões cristãs nem contra as grandes religiões monteístas (nem contra as outras, desde que permitam um gajo ter mais que uma mulher!).
Todas elas acolhem princípios universais que, a serem seguidos e não alvo de manipulação, contribuiriam de forma decisiva para um mundo mais justo e fraterno (e o Sócrates não estaria no poleiro, pela certa).

Importante, importante, é que não nos arroguemos os detentores da verdade absoluta, e que, com humildade, saibamos acolher os contributos de todas as sensibiidade, mesmo das crianças, dos idiotas, dos lunáticos e da mulheres - sim, delas também!

Isto já vai longo - deve ter sido o post mais comprido que escrevi até hoje - por isso por aqui me quedo.
E é provável que agora fique um mês sem dizer mais nada.

A bem de todos!!!

3 comentários:

Bottled (em português, Botelho) disse...

Meu caro Inspector,

É bom vê-lo de regresso à sua grande forma.

Deus habita no coração de cada um de nós, que fomos feitos à sua imagem e semelhança.

A decisão de te aproximares ou não Dele é só tua (livre arbítrio), porque o caminho correcto está lá, no teu coração.

E, sem colocar em causa qualquer postulado ou religião, acho extremamente simples e directo o caminho para Ele. Sem trocas, sem exigências, sem necessidade de grandes artíficios ou expedientes.

Parabéns pelo post (concordo com quase tudo e isto dava pano para mangas).

Hic Hic Hurra

Nota - O que é uma religião monteísta? Faça a pesquisa no google por esta palavra e vai ver a primeira hiperligação que lá lhe aparece, por Cristo!

JP disse...

Plenamente de acordo com tudo. De resto, "católico não praticante" é figura muito falada, mas que na verdade não existe. Quem não pratica, não se pode intitular católico (nem outra coisa qualquer).

Ticha disse...

Poderia ficar aqui até amanhã....mas digamos que as atitudes mais tristes que vi na vida vieram de pessoas que não saem da Igreja e da Santa Casa! Já fui praticante, agora faço parte do tão famoso grupo "Católico Não Praticante". A sensação de desilusão na Benção fas fitas, conheço bem....