O papel do higiénico
Qual é o seu verdadeiro papel?
Terá mais do que um fim?
Enfim... que tal começarmos pelo princípio.
Na Idade da Pedra, os homens (que eram uns pedrados do camandro), quando tinham necessidades fisiológicas nunca pensaram que mais tarde surgiria uma solução para o problema que se lhes deparava.
E tinha a sua lógica, já que se estava na Idade da Pedra e não na Idade do Papel.
Com efeito, até era melhor, depois de consumado o acto, ir a correr até ao rio mais próximo lavar bem o olhinho (notem que eu não referi levar bem no olhinho, porque naquela época não havia cá dessas mariquices e a língua portuguesa presta-se a determinados e sempre oportunos esclarecimentos).
Havia, pois, na altura a chamada solução aquosa (não, não era o Betadine, passe a publicidade) para o problema.
Por outro lado, se na Antiguidade existiu uma grande expansão da medicina à base de plantas foi precisamente porque Hipócrates descobriu, num dia em que teve de se aliviar num bosque nas redondezas, que as urtigas não constituiam um bom sucedâneo para a limpeza rectal e decidiu utilizá-las, juntamente com outras ervas, para outros fins.
Seja como for, os tempos foram evoluindo e toda a Humanidade esteve "à rasca" até ao século XII, altura em que o ganês I. Jienick Jalló descobriu, pela primeira vez, uma forma primitiva de resolver os seus males. E isto porque, muito bem instalado na sua WC privativa ao ar livre, reparou que as saias da mulher que ondulavam ao sabor do vento no estendal da família, ali mesmo à mão de semear, também poderiam desempenhar tal função. Mas a ideia não vingou, já que a sua querida esposa não se mostrou encantada por aí além com a descoberta e obrigou-o a beber três pacotes de Skip Efervescente, diluídos em água do poço, para lhe lavar as tripas e dissuadi-lo de tentar repetir a façanha, sempre com um sorriso nos lábios, a colher de pau numa das mãos e a forquilha na outra.
No entanto, o verdadeiro precursor da chamada "limpeza-a-seco" foi Cervantes que, no século XVII, ao acabar o volume II da sua obra "Dom Quixote de La Mancha", verificou que o seu conteúdo estava igualzinho ao do primeiro livro e, como até já estava na casa-de-banho...
A notícia espalhou-se aos quatro ventos (imagine-se o fedor).
Tinha acabado de ser inventado o papel higiénico.
Acabavam-se com a merda dos problemas existentes quanto à limpeza do ânus e com os pestilentos odores que emanavam dos traseiros dos menos lavadinhos, os quais chegavam a ser menos suportáveis que o cheiro proveniente das suas axilas.
E, hoje em dia, o papel higiénico é a coisa mais natural deste mundo. Tão natural como a sua sede!
Reparem que é tão vulgar que nós nem reparamos mais nele.
Só que, quando as tripas dão sinal, logo ao primeiro aperto, ele transforma-se automaticamente no melhor amigo do homem, ultrapassando até o próprio cão.
E o papel até nem é exigente.
Para ele, que tem uma vida de bosta, diga-se de passagem, tanto faz limpar um rico cuzinho pobre como um pobre cuzinho rico... é-lhe completamente indiferente.
E existem vários tipos de papel higiénico: desde aquele professado pelos responsáveis pelos organismos do Estado, que limpam sempre a merda feita pelos governantes, até à visão normal do rolo que se desenrola e que rasga por todos os lados menos pelo picotado (obrigado, Mário Mata, por este contributo musical).
Mas a ele, ao grande desenrasca das massas à rasca, ninguém é capaz de prestar a devida e justa homenagem.
Todos cagam p'ra ele e o coitado limita-se a apanhar com a trampa toda.
Que porcaria de vida!
E, no entanto, ele já se mostra imprescindível e é titular indiscutível da equipa da limpeza e da higiene pessoal humana.
Chego a questionar-me sobre o que seria da sociedade actual sem o papel higiénico.
Aos seus utilizadores nunca se lhes conheceram efeitos "culaterais" e todos "recunhecem" a sua "cuperação" para "cu" a gente.
Para ele, e porque são merecidos, os meus mais higiénicos sinais de respeito e de admiração.
De maneira a elevar-lhe o moral, recordo-lhe aquela famosa frase: "It's a dirty job, but somebody's got to do it!".
Agora adivinhem apenas quem é que fica com o papel do "somebody"...
Hic Hic Hurra
Nota - Alguém me saberá explicar, no âmbito da promoção da foto, o que é aquilo de rolos de papel higiénico ligeiramente usados e em boas condições?
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