terça-feira, 21 de novembro de 2006

Escrevia-se há 150 anos...

As bonecas hoje têm as suas casas, os seus pequenos móveis de sândalo ou de pau-rosa, uma cama imperial coberta por um cortinado de cetim azul, um salão, uma casa de jantar e um gabinetinho de toilette com todos os seus acessórios microscópicos, escovas, esponjas, pentes, sabões, potes de cosmético e frascos de perfumaria. Os armários, e as cómodas são verdadeiras cómodas e verdadeiros armários, com o enxoval completo, com a toilette da boneca: as meias de seda, as luvas, as rendas, as botinas de passeio e os sapatos de baile, camisas de batiste bordadas para de dia, camisas de foulard para dormir (...) Oh! quanto estamos longe da boneca de que fala Michelet e que as crianças faziam antigamente ajudadas por suas mães, com um tapulho de pano branco em que se punham dois olhos de contas azuis, a que se bordava uma boca com linha vermelha de marca, e a que se cosia uma cabeleira de retrós!
A boneca antiga era uma escola de pequenas mães; a de hoje é um manual de pequenas cocottes. Com a boneca aprendia-se então a vestir e a embalar os filhos; com a boneca aprende-se hoje a arruinar os maridos.

in A FESTA DO NATAL - A FESTA DAS CRIANÇAS E A HISTÓRIA DE UMA QUE SE NÃO DIVERTIU

José Duarte Ramalho Ortigão

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