quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Abortar o referendo do aborto?...

O nosso Supremo Tribunal Político, que também usa a denominação de «Tribunal Constitucional», aprovou ontem, por 7 votos contra 6, a pergunta a formular aos lusitanos no próximo referendo sobre a Lei do Aborto.
O processo está agora nas mãos do PR.

A pergunta, tanto quanto consegui apurar, é qualquer coisa parecida (ou mesmo igual) a isto:

Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?

Gostaria de deixar aqui algumas questões que me têm tolhido ultimamente o entendimento, solictando aos milhões de leitores anónimos deste blog em geral, e aos milhões de não leitores, que nem sabem da existência do blog, em particular, que, podendo, as esclareçam.

Previamente, permitam-me que vos advirta ainda não ter sentido de voto para o referendo.
Aliás, ainda nem sequer tenho sentido de levantar a peidola do sofá e dar-me ao trabalho de ir botar a cruzinha no papelinho (que isto de levantar a peidola tem muito que se lhe diga, não é Zé?).

Aqui vai:

1. Sendo nós um país de reconhecidos iletrados, porquê utilizar a expressão interrupção voluntária da gravidez em vez da palavra aborto, de mais simples e universal compreensão? será que é a terminologia que apazigua as consciências dos decisores políticos?
2. Porquê utilizar a palavra despenalização em vez do termo liberalização? Tanto quanto julgo saber, não se propõe qualquer outro tipo de sancionamento (v.g. tornar o acto num ilícito de mera ordenação social, vulgo contra-ordenação), pelo que estamos de facto a falar de uma verdadeira liberalização da coisa. Dormem melhor se não liberalizarem o aborto, até porque - ó suprema heresia - poderiam passar a apelidá-los de liberais!
3. Porquê despenalizar (ou liberalizar) o aborto realizado até às 10 semanas e não aqueles realizados até às 9 ou 11 semanas? É que ainda não vi qualquer estudo, científico ou outro, que explicasse qualquer diferença entre abortar às 10 semanas ou às 9 semanas e meia (aqui ainda valia a pena pela Kim Bassinger!), para o embrião...
4. Então e se uma mulher optar por abortar, desculpem, por interromper voluntariamente a sua gravidez, às 8 semanas, numa parteira de vão de escada, por constrangimento social, ou numa clínica privada que ainda não obteve o necessário licenciamento (isto também não deve ser pera doce, ou o Sócrates já criou a «Clínica Abortiva na Hora»?), passa a cometer um crime e a poder ser perseguida e punida por isso?

P.S. - Ó Chefe, vamos mas é postar gajas nuas senão ainda transformamos isto num forum de discussão pública de «assuntos de relevante interesse nacional»!!!

2 comentários:

ENGº. Viriato disse...

Caro Inspector,
Eu iria mais longe. Porque não uma pergunta do género: "Concorda com o aborto?". Sem mais?...claro que sempre poderia surgir uma duvida nos eleitores do tipo:"Se concordo com o 1º Ministro? Estes gajos têm cada uma...Mais valia ter ido à bola ou ficado em casa a choinar...vai um risco por cima desta merda!". São os riscos da DEMO cracia, meu caro!

ENGº. Viriato disse...

Gajas nuas é sempre uma boa ideia...embora seja também esse o motivo pelo qual acabamos a referendar a questão do aborto...complicado, hein?!