quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Poderia suceder num Posto da G.N.R. perto de si

(Baseado numa história verídica ocorrída em Aachen, Alemanha, no inicio do mês de Agosto)
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Era mais uma noite tranquila na área de intervenção do Posto da G.N.R. de Pias. O soldado Silva, que se encontrava de atendimento e às comunicações, encontrava-se sozinho no Posto, trancado por forma a não ser surpreendido por delinquentes mais inconsequentes, enquanto dois dos seus colegas circulavam no carro patrulha pela localidade.
O calor da noite, aliado à nula concretização de chamadas para o Posto na última hora, levara o soldado Silva ao que na gíria se designa por “passar pelas brasas”.
Subitamente, o telefone do Posto tocou, num trinado irritante que acordaria qualquer pessoa que se encontrasse nas suas imediações. Incluindo o soldado Silva, o que sucedeu. Estremunhado, e vociferando baixinho alguns impropérios, o militar atendeu o telefone.
- Posto da GNR de Pias, boa noite.
Do outro lado respondeu uma voz feminina, algo exaltada.
- Boa noite, senhor guarda. Desculpem estar a incomodar, mas é que eu precisava mesmo que vocês viessem aqui.
- Então o que é que se passa? – perguntou o soldado Silva, antevendo mais um casos daqueles casos de violência doméstica, em que o marido, depois de mais uma vez ter perdido à bisca dos nove na taberna da terra, chega a casa e começa a dar murros na pessoa mais feia que está por perto, na maior parte das vezes a própria mulher.
- Sabe, é que o meu Manel não quer ter... sabe... fazer amor comigo.
- Desculpe?
- Desculpas? Não me deu desculpas nenhumas! Disse apenas que não ia para a cama comigo nem que lhe encostassem uma caçadeira à cabeça!
- Aaaaa... Sabe, minha senhora, nós não temos nada a ver com essas coisas. Nessa área, o seu marido faz o que quiser e quando quiser. Nós não podemos obrigá-lo a nada.
- Vocês tão mas é feitos com ele! Ele casou-se comigo e tem deveres conjugais. Foi o que o senhor Prior disse. Se quando ele quis, eu fui obrigada a fazer, agora que eu quero, ele tem de se aguentar! Isto não há dois pesos e duas medidas. Tamos no principio da igualdade ou não tamos?
- Minha senhora, nós só podemos intervir quando existam factos que possam consubstanciar a prática de um crime. Se o seu marido lhe batesse, por exemplo. Está a ver? Se houvesse violência doméstica, maus tratos físicos ou psíquicos. Está a ver?
- Ó senhor guarda, se isto não são maus tratos “psícos”, então o que é? Há um vulcão dentro de mim que este porco não quer satisfazer! O facto de este bêbado idiota não querer cumprir com os seus deveres conjugais é crime, sim senhora, crime de maus tratos “psícos”. E se não me manda cá a patrulha, vou à TVI e ao senhor Prior.
- Minha senhora, faça o que quiser. A patrulha da guarda está ocupada com a vigilância policial a uns perigosos assaltantes e não vou mandá-la aí só porque o seu marido não quer ter relações intimas com a senhora. Boa noite, minha senhora – disse o soldado Silva, desligando o telefone.
Era só que lhes faltava agora, ir a casa dos maridos refractários obrigá-los a cumprir o seu dever conjugal. Ela que arranjasse um amante!
O soldado Silva reencostou-se na cadeira e tornou a fechar os olhos, aguardando a chamada seguinte”.

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