quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Inspector Serôdio - Os anos loucos de faculdade

(continuação)
Se bem me consigo recordar (confesso que a estas horas não me recordo de grande coisa), o nosso estimado inspector havia recentemente regressado ao nosso país, proveniente do Ruanda onde teria deixado muitas saudades aos macacos gritadores e, aqui chegado, para encetar a carreira que pretendia abraçar de corpo e alma, a de detective privado, necessitava ainda de obter uma licenciatura num qualquer curso superior e, com base nesse documento, ir à ordem profissional, a Associação dos Detectives Lusos, com sede em parte incerta de maneira a obter a carteira profissional, a qual só era atribuída aos que davam com o local, pois haviam superado a grande prova final (com excepção do carteiro que lá ía entregar correspondência diariamente e todos os dias tinha de recusar delicadamente a carteira profissional de detective que lhe queriam impingir por ter dado com aquilo).
Feito este esclarecimento prévio, é um Inspector Serôdio jovem, mas muito à moda, aquele que se resolve inscrever no recém-criado Curso para Trolhas e Ladrilhadores Profissionais, que possibilitiva igualmente que se obtivesse a carta de condução de pesados sem ter de passar nas provas teóricas.
Desses tempos de faculdade, recorda-se com ternura da tertúlia de amigos, com quem ainda hoje convive amiúde, tais como o Tino, o Zézé e o Empla (de longe o seu guia espiritual), com quem chegou a partilhar o apartamento que se encontrava num estado de semi-desorganização, como em breve mostraremos, porque ninguém chegou a perceber a complexidade da escala de limpeza engendrada pelo cérebro do nosso Inspector.
Pelo meio ainda teve tempo de fazer uma incursão na área da música, criando uma banda, chamada Detective, que lançou um único single (e digo lançou no sentido literal, porque quando o dono da editora discográfica ouviu aquela música pela primeira vez, abriu a janela do escritório e lá foi o single ao vento). Decididamente, a música não era a área da sua vocação.
No entanto, acabou por concluir o curso com muita mestria, tendo apresentado uma tese de mestrado muito prática onde demonstrou que era possível utilizar-se calçada portuguesa na decoração das casas de banho públicas, conjuntamente com a inovadora noção de que o muco vaginal de elefante fêmea ruandês era muito mais resistente do que o betume e deixava um odor exótico no local.
Este gosto pelas casas-de-banho públicas ficou-lhe dos últimos anos de curso onde, sempre na mesma sanita, conseguiu resolver um intricado caso de contrabando de argamassa, betão armado e de aços para pré e pós-esforço de baixa relaxação, que uma quadrilha organizada que operava numas obras perto da Cova da Moura levava a cabo, mesmo por debaixo do nariz do contra-mestre, drogando-o com pau de cabinda e colocando umas mulatas no pré-fabricado que este utilizava para guardar a obra.
Assim se formou e, dando alvíssaras ao carteiro, assim igualmente chegou à sede da sua Associação pelo que passou a exibir, com mérito e orgulho desmedido, a sua carteira profissional.
(continua)

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