Há mar e mar, há ir e... PAGAR

Foi hoje publicado o Decreto-Lei n.º 96-A/2006 que estabelece o regime contra-ordenacional aplicável em matéria de assistência aos banhistas nas praias de banhos.

O título do diploma suscita desde logo uma preplexidade: de que banhos se trata?:
De duches?
De banhos turcos?
De banhos de imersão?
É que, convenhamos, não conheço praias onde não se tome banho de mar, sobretudo quando cá fora estão 35º e o mar, mesmo fresquinho, tá mesmo ali, a meia dúzia da passos e um mergulho...

Depois, percorrendo o curto articulado (15 artigos no total), importa parar na norma constante do artigo 15.º, sob a epígrafe «Utentes das ZAB».
Pois é, somos nós mesmos os utentes das ZAB.
E se nós, que sem sabermos, estamos a utilizar uma ZAB, desrespeitarmos os sinais de informação estabelecidos, tais como bandeiras, placas, etc..., levamos com uma coima de 55,00 a € 550.

Áh, mas querem saber o que é uma ZAB?
Atão vão à al. a) do artigo 2.º: «zona de apoio balnear».
E o que é uma zona de apoio balnear?
Ficam já esclarecidos (ou não): «a frente de praia, constituída pela faixa de terreno e plano de água adjacente ao apoio de praia, apoio balnear ou equipamento, a cujo titular de licença ou concessão é imposta a prestação de serviços de apoio, vigilância e segurança aos utentes da praia».

Tá-se mesmo a ver quem vai ter boa vida este Verão:
Às 9h chega o banheiro (agora são nadadores-salvadores) à praia e hasteia a bandeira vermelha; às 9.05h vai-se deitar, que ainda não dormiu e rave moi; às 11h chega o colega, mau-humorado porque lhe marcaram um jogo de beach-volley para tão cedo; às 11.30h interrompe o jogo, saca do apito e manda um grupo de crianças -se, que, na maré vazia, está a fazer umas poças a 10 metros da linha da água, afastar-se; ao meio dia vão almoçar, não sem antes hastearem a bandeira respectiva; às 14h regressam do almoço, dão uma volta pela beira-mar para ajudar à digestão e mandam recuar uns incautos que se atrevem a jogar beach-ball na areia molhada (têm mesmo que ameaçar um, mais relutante, com uma coima!); às 14.30h voltam para a base, estendem as toalhas debaixo do chapéu de sol e batem uma sesta; às 16h acordam, sobem para a cadeira alta, binóculos em riste e põem-se a galar as miúdas, atribuindo-lhes pontuação (estão a fazer um estudo comparativo para concluirem qual é o dia da semana com mais hot babies); às 17h, pausa para o lanche - aproveitam para, com o telele (o de serviço, claro!), combinarem a noite; às 17.30h nova ronda pela praia - «meu amigo, para cima, vamos lá, que esse pezinho tá quase dentro de água»; finalmente, às 18.50h (têm o relógio adiantado), arreiam a bandeira e lamentam-se de quão cansativo foi o dia.

Por isso, caros amigos, este Verão, quando forem frequentar as ZAB's da Aldeia, uns conselhos:
- reservem uma parte do subsídio de férias para as coimas (eles vão andar assanhados!);
- levem cartão de débito ou recheiem bem a carteira - quem não pagar a coima no momento fica com o fato de banho confiscado;
- quando o calor apertar, dêem uma corrida, mergulho rápido no plano de água adjacente da ZAB e BAZem.

Finalmente, atente-se que o decreto é emanado do Ministério da Defesa Nacional.
É que ameaça a segurança nacional ter cidadãos a apanhar banhos de sol e a mergulhar nas ZAB's.
Aliás, vais ser bonito ver os Fuzas a desembarcar nas ZAB's vindos do mar em semi-rígidos, cercar os terroristas que, com bandeira amarela, estavam a nadar em local com água pelo peito e levá-los, algemados, para identificação na Capitania respectiva; ou a Força Aérea a patrulhar o espaço aéreo das ZAB's, em contacto rádio permanente com os Páras, que são largados em zonas críticas, tais como profundas covas de areia junto ao mar feitas por perigosos petizes de 6 e 7 anos; ou ainda o regimento de infantaria mecanizada, dando uso aos nóveis blindados ligeiros, a vigiar os extensos areais da nossa costa.