sexta-feira, 16 de junho de 2006

Crime no Palácio de São Bento - Capítulo III

Resumo do capítulo anterior:
Quinhentos mil euros destinados à ajuda militar em Timor desapareceram do cofre pessoal do Primeiro-Ministro no Palácio de São Bento. A comunicação social já começou a dissertar sobre o sucedido e o Presidente da República telefona ao Primeiro-Ministro.
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“O Primeiro-Ministro agarrou no auscultador e levou o bocal aos lábios.
-Estou? Estou? Sim…? Mas... O telefone não dá sinal! Mas o senhor não acabou de falar com o Senhor Presidente da República ? – disse, dirigindo-se ao mordomo.
- Efectivamente, senhor.
- Mas agora o telefone não tem sinal!
- Não sei o que terá sucedido, senhor.
Nisto, novamente entoa o sino da porta de entrada. O mordomo dirigiu-se novamente para a porta do Palácio, perante o olhar atónito do Primeiro-Ministro na direcção do telefone, e surdo do diálogo que se estabeleceu entretanto entre os Ministros Costa sobre quem irá proceder à investigação. Passados alguns momentos, o mordomo regressou com uma carta nas mãos e entrega-a ao Primeiro-Ministro que a abre e, depois de ler o seu conteúdo, solta um suspiro.
- Só me faltava esta! Telefone cortado por falta de pagamento! Nós tinhamos pedido ao País para fazer sacríficios, mas o Teixeira dos Santos escusava-se de ter deixado de me pagar o telefone do Palácio. Bom, se o Pê Erre quiser falar comigo, que me ligue directamente para o telemóvel. Meus senhores, creio que está na hora de ir ao meu gabinete ver o que se passa com o meu cofre pessoal. Quem será agora?
Novamente o sino da porta de entrada havia entoado pelo Palácio. Passados alguns momentos, o mordomo, que saíra da sala, regressou, já meio arfante de tanta caminhada, com um indivíduo desconhecido, de meia idade, gabardine algo suja mas bastante mal cheirosa, e que parecia ter saído dos piores meandros da Lapa ou de Campo de Ourique.
- Muito boa tarde – disse o sujeito – chamo-me Serôdio e sou inspector-chefe da Polícia Judiciária. A directoria telefonou-me solicitando a minha presença neste local porque teria ocorrido um homicídio. Quer dizer, não me telefonou directamente, telefonaram para o piquete e infelizmente sou eu que estou de... Bom, onde está o corpo?
- Ora ainda bem que o senhor inspector chegou – disse o Primeiro-Ministro, cumprimentando-o e pensando que teria de lavar as mãos muito de seguida dado que as mãos do inspector tinham o aspecto de terem andado entretidas em outros devaneios.
Sentindo a direcção do seu olhar, o inspector tratou logo de acalmar a sensibilidade do Primeiro-Ministro.
- Desculpe, senhor Primeiro-Ministro, mas não tive tempo de lavar as mãos antes de vir para cá directamente do Parque Eduardo VII. Estava lá a investigar a morte de um sujeito que foi encontrado cadáver, atrás de um arbusto, completamente revestido de muco vaginal. Infelizmente, por falta de meios, este ano não pudemos comprar luvas para a recolha de provas. Daí que tenhamos de retirar tudo à mão. Mas não se preocupe que o muco que me ficou nas mãos já está seco.
Perante tais palavras, o Primeiro-Ministro não pensou mais e saiu do local em direcção à casa de banho a fim de lavar as mãos. Ficou então o Inspector na sala com os Ministros Costa e o mordomo."

(Cont)

1 comentário:

Bottled (em português, Botelho) disse...

Caro Senhor Marquês,

Estou em delírio com esta sua obra!

Não sei se o novo personagem irá contribuir para desvendar o mistério que se adensa, mas devo já fazer notar que falta a sua Argúcia Acutilante.

E, como bem sabemos, qualquer livro de sucesso que se preze tem de ter animais (que não os membros do Governo, que esses não contam para este fim). Recorde-se do Tim (que não o dos Xutos), que tanto embelezou Os Cinco, da Enid Blyton.

Meras sugestões, mas que podem ser úteis para a vizinhança do Senhor Inspector, pois a sua cadela uiva desesperada por não ter tido um papel na história de S. Senhoria e não deixa ninguém pregar olho (embora, à sua conta, já tenha ganho duas dúzias de garrafas de vinho que foram lançadas na noite em sinal de protesto).

Hic Hic Hurra