sexta-feira, 23 de junho de 2006

Crime no Palácio de S. Bento - Capítulo IV

Resumo do capítulo anterior: Quinhentos mil euros destinados à ajuda militar em Timor desapareceram do cofre pessoal do Primeiro-Ministro no Palácio de São Bento. O Inspector Serôdio, da PJ, já se encontra no local em investigação, enquanto o Primeiro-Ministro foi lavar as mãos à casa de banho.
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-“O Inspector olhou para os dois ministros Costa, que continuavam envoltos em discussão, completamente alheados do que os rodeava. Não valia a pena abordá-los, pensou. Provavelmente, como todos os ministros, não sabiam nada do que era necessário saber.
Olhou para o mordomo.
- Sabe - começou -, não sei se o senhor sabe, mas é o principal suspeito.
- Desculpe, senhor?
- Suspeito. O senhor é o principal suspeito.
- Do quê, senhor?
- Do sucedido, claro.
- Eu, senhor? Discordo respeitosamente da sua opinião, senhor, se me permite.
- Vá lá, deixe-se lá de coisas e admita de uma vez por todas que foi você que matou o sujeito.
- Qual sujeito, senhor?
- Aquele cujo cadáver foi encontrado ao lado do cofre pessoal do senhor Primeiro-Ministro, claro.
- Mas não foi encontrado nenhum cadáver, senhor.
- Não goze comigo, homem. Não só a minha directoria me comunicou a existência do cadáver como ouvi na TSF quando vinha a caminho daqui. Vai-me dizer que toda a gente andou a inventar a existência de um cadáver neste local?
- Bom, senhor, se quer realmente a minha opinião…
Nesta altura, o Primeiro-Ministro reentrou na sala e dirigiu-se ao Inspector pedindo-lhe para o acompanhar ao seu gabinete pessoal. O mordomo seguiu-os. Os ministros Costa continuaram onde estavam, a discutir qual das polícias deles teria competência para efectuar a investigação naquele caso.
Chegados à porta do gabinete do Primeiro-Ministro, este virou-se para o Inspector antes de abrir a porta.
- Oiça lá, senhor inspector, não será melhor abrir esta porta com luvas, a fim de não estragar os vestígios que possam existir?
- Era uma boa ideia, mas, como já lhe disse, não temos dinheiro para luvas. O senhor tem aí luvas?
O Primeiro-Ministro virou-se para o mordomo com um olhar inquiridor.
- Saiba V. Ex.ª que a porta está aberta – disse o mordomo, ao mesmo tempo que com o punho da mão direita, bem fechado, empurrava a porta para trás, revelando o interior do gabinete pessoal do Primeiro-Ministro.
Aperceberam-se então, subitamente, do cheiro da morte que o interior do gabinete exalava, traduzido em dois cadáveres no chão. Um dos cadáveres, do sexo feminino, encontrava-se em cima da mesa de trabalho do Primeiro-Ministro, despojada de qualquer vestuário na parte inferior do corpo e ostentando um corpete semi-aberto na sua parte superior, revelando o seu interior de forma clara a juvenilidade da pele da sua dona; o outro cadáver, do sexo masculino, completamente nú, encontrava-se junto da janela do gabinete, caído de bruços, como se tivesse sido atingido pelas costas.
- Zulmira! – gritou o mordomo.
- Andrei! – gritou o Primeiro-Ministro.
O Inspector olhou estupefacto para as duas pessoas que o acompanhavam.
-Mas os senhores conhecem-os?"
(Cont)

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