terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Quando uma ideia genial vai abaixo pela pequenez de Portugal

Ninguém percebeu, mas a ideia de Freitas do Amaral era brilhante e permitia poupar cerca de 1,2 milhões de euros ao Estado Português.
A coisa começou quando, no início da transacta semana, Teixeira dos Santos telefonou a Freitas do Amaral comunicando-lhe que teria de cortar as despesas no Ministério dos Negócios Estrangeiros e que teria de apresentar um plano para o efeito antes da apresentação do próximo orçamento rectificativo.
Contas feitas, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, entre cargos mais ou menos dispensáveis, concluiu pela existência de uns quantos (muitos) que poderiam ir borda fora. O problema era o valor da indemnização total – cerca de 1,2 milhões de euros a este conjunto de valores nobres da representação diplomática portuguesa no estrangeiro.
Falou com Teixeira dos Santos, o qual respondeu-lhe com a expressão preferida deste Governo para com os portugueses: “Desenrasca-te.”.
E Freitas desenrascou-se. A querela em torno das caricaturas de Maomé surgiram como uma oportunidade dourada. Telefona para os seus contactos no “Expresso” e no “Público” para que sejam publicadas as ditas caricaturas, referindo que o Ministério assumirá uma posição defensora dos direitos de liberdade de expressão face a tal publicação. Após a publicação nos jornais, emitiu de imediato um comunicado afirmando estar de acordo com a imposição de limites à liberdade de expressão por respeito aos valores religiosos, e nada dizendo quanto aos ataques de que as embaixadas escandinavas foram alvo.
Estava o Ministro à espera, por um lado, que a publicação das caricaturas em Portugal permitisse acicatar os ânimos dos muçulmanos lá fora; por outro lado, o comunicado sempre serviria para afirmar que o Ministério fez tudo para não acicatar os ânimos lá fora, nem sequer pela condenação de actos anteriores.
Podia ser que com os ataques posteriores, alguns dos diplomatas se demitissem voluntariamente ou simplesmente desaparecessem. Reduzindo o valor total das indemnizações a pagar.
Pois é. Freitas esqueceu-se foi de que Portugal não interessa aos interesses árabes de provocação. Não está no círculo de guerrilha do “Hamas” nem de Teerão. Azar. Ninguém ligou ao caso português lá fora (nem cá dentro, com excepção de uns quantos deputados que não tinham mais nada que fazer durante a semana).
Aliás, até é minha convicção que se Freitas do Amaral tivesse colocado as ditas caricaturas num “placard” gigante sobrevoando o Atlântico com luzes fluorescentes, ninguém se importaria. A não ser que se dissesse que a culpa seria dos americanos que se encontram na Base das Lajes.
Nem sempre as ideias brilhantes resultam.

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