segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Se tivesse sido em Portugal (parte I)

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"Boa tarde, eu sou a Soraia Caves e este é a síntese das dezoito horas do Jornal Lusitano.
Pela 13.ª noite consecutiva verificaram-se confrontos na zona de Lisboa e dos seus concelhos periféricos entre grupos de jovens e a polícia, tendo a última noite terminado com cerca de 600 carros incendiados, cerca de 700 feridos e 10 desaparecidos, estes últimos curiosamente todos agentes da 9.ª Esquadra da P.S.P. da Amadora.
Tudo começou praticamente há duas semanas quando, na sequência da ocorrência do incêndio de dois carros na zona da Amadora, o subsecretário de Estado da Administração Interna afirmou aos respectivos donos, para os consolar, que ia limpar com lixívia a escumalha que tinha feito aquilo.
A partir desse momento, sucederam-se as noites de terror junto da capital lisboeta, com carros e estabelecimentos incendiados, bem como vidros partidos um pouco por todo o lado onde os bandos organizados passavam.
Em pouco tempo, os desacatos, iniciados numa primeira noite na Amadora, alastraram à Brandoa, a Chelas, a Oeiras, à Pontinha, a Santo António dos Cavaleiros, Cascais, Cacém, Queluz, ao Bairro Alto, passando para o outro lado do Tejo, atingindo posteriormente também os concelhos do Barreiro, da Moita, de Almada e de Setúbal.
No total, os números já atingiram os cerca de 5.000 carros incendiados, 400 estabelecimentos ardidos e um incalculável prejuízo material em estragos para os particulares e para o Estado.
Não existem sinais de que os conflitos irão diminuir de tom nos próximos dias. Todavia, o Primeiro-Ministro José Sócrates recusa-se a declarar o estado de emergência.
"Jornalista – Sr. Primeiro-Ministro, Senhor Primeiro-Ministro, o que é o Governo está a fazer para resolver a situação?
PM – Podemos dizer aos portugueses que estamos a acompanhar com bastante preocupação o que está a suceder na área metropolitana de Lisboa e que estão a serem estudadas medidas para combater, de forma eficiente, o défice, perdão, os conflitos gerados por um grupo de cidadãos que decerto não sabem viver em democracia e que, abandonados a um corporativismo e fechados no seu reduto, recusam-se a aceitar medidas que apenas os colocará ao nível dos restantes portugueses que não têm quaisquer privilégios ou regalias.
J1.– Que regalias ou direitos têm as pessoas que provocam estes conflitos, senhor Primeiro-Ministro?
PM – São regalias e direitos que toda a gente conhece e que por isso não vou agora enunciá-las. Seria ridículo da minha parte enunciar o óbvio. Apenas direi que são regalias e direitos que eu não tenho, aliás, como a maioria dos portugueses.
J2.- Senhor Primeiro-Ministro, porque é que ainda não foi declarado o estado de emergência?
PM – Não o fizemos até ao momento, nem o vamos fazer nos tempos mais imediatos, para não prejudicar os portugueses. Se nos recordarmos, os seguros existentes não cobrem danos que sejam provocados por terceiros no âmbito da existência de um estado de emergência. Ao procedermos da forma como o estamos a fazer, estamos a proporcionar aos portugueses a possibilidade de reaver o dinheiro do seu prejuízo junto das respectivas companhias seguradoras.
J1.- Mas o Estado não poderia garantir o pagamento desses prejuízos?
PM – Como deve saber, e em primeiro lugar, o Estado não tem dinheiro para o pagamento desse tipo de prejuízos. Pedimos esforço e contenção aos portugueses para diminuição do défice, o que temos vindo a conseguir gradualmente. Não podemos agora pedir-lhes, sobretudo aos habitantes de outras regiões nacionais, como as Beiras ou Trás-os-Montes, que paguem os prejuízos infligidos a lisboetas por outros lisboetas. Deixemos as condições normais do funcionamento dos seguros operarem.
J1.– Mas os contribuintes lisboetas também não pagam as SCUTs das Beiras e de Trás-os-Montes?
J2- Vai demitir o senhor subsecretário de Estado da Administração Interna?
PM – Gostava muito de continuar a responder às vossas perguntas, meus senhores, mas estão lá dentro à minha espera para uma reunião. Até já
".

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