quarta-feira, 19 de outubro de 2005

A reflexão política em Portugal

Estas eleições autárquicas fizeram-me reflectir sobre o elevado grau de reflexão política individual que existe em Portugal.
Comecemos a nossa reflexão pelo mísero candidato autarca à Câmara Municipal lá do concelho. Filiado no Partido Socialista, de preferência.
Primeiro, tem de reflectir sobre se se candidata ou não à autarquia.
Depois de aceitar o convite, começa a longa reflexão sobre as ideias que irá apresentar para a autarquia.
Após serem publicadas as primeiras sondagens, reflecte sobre o que poderá estar a correr mal na campanha.
Durante o período de pré-campanha e campanha eleitoral passa o tempo a dizer aos eleitores que encontra nas ruas que irá reflectir sobre os problemas que os mesmos lhes apresentaram.
Chega ao sábado véspera de eleições e entra em período legal de reflexão.
Durante o domingo, vai reflectindo sobre o que poderá acontecer no final do dia.
Conhecidos os resultados e sabedor da derrota, assume que irá reflectir sobre os motivos da mesma.
Começa então o período de reflexão sobre o seu futuro, designadamente, se irá ocupar o cargo de vereador, se volta para a Assembleia da República, ou se abandona a chefia da distrital ou concelhia da qual seria líder.
Entretanto, a oposição ganhadora vai adiantando que o Primeiro-Ministro, pertencente ao partido derrotado nas eleições, deverá reflectir sobre o resultado das eleições.
O candidato perdedor, depois de muito reflectir, comunica publicamente que irá iniciar um período de reflexão sobre a sua candidatura ou recandidatura à chefia das distritais ou das concelhias locais. Depois de fazer um juízo positivo, começa então a reflexão sobre a composição dos membros da sua lista.
E por aí fora.
Como se vê, os políticos portugueses reflectem muito.
O problema é que reflexão política não coincide com pensamento político. Daí termos muitos políticos que reflectem, mas quase nenhum que pensa política. Ou mesmo que pense.
Que saudades da velhinha Assembleia Constituinte (1974-1975), cuja qualidade do pensamento político dos seus elementos era 230 vezes superior à da presente Assembleia...
Duas adendas (em homenagem ao Alves que anda a queixar-se das minhas notas compridas; toma lá então umas adendas):
Primeira: como já devem ter reparado no texto acima disposto, o Primeiro-Ministro nunca reflecte. Decide. E, infelizmente, por também não saber pensar, decide mal na maioria das vezes.
Segunda: perceberam, finalmente, porque a unanimidade dos nossos políticos lê o "Expresso"?

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