segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Jingó bel, jingó bel oue fá louai…


Delírio de um Alves em tempo de Natal. Amanhã é Natal, não é?

“…Malfadada época do ano! Uma expressão quase obscena do consumo. Aqui me vejo; ombro com ombro, na multidão encavalitada, nos corredores apinhados, consumidores passivos, de apetite voraz. É assim que nos vêem, eu sei que é. É assim que os grandes; donos dos nossos destinos, donos do mundo, nos querem ver. Somos bombardeados, em massa, alimentam a nossa gula.
Nascemos quase livres, crescemos vigiados e, em menos de nada, somos adultos, prontos para o vórtice. Não nos é deixada escolha. Espartilham-nos, aliciam-nos e engavetam-nos nestas catedrais, verdadeiras fábricas do pronto-a-comer, do pronto a servir, do pronto a sair. Relanço um olhar sobre o ombro e o que vejo: um igual, produto estereotipado, de idênticas roupagens, com a mesma postura, igual porte, entregue ao frenesim. Somos criaturas passivas, vítimas dos nossos sentidos, saídas de um totalitarismo Orwelliano. Que é feito do livre arbítrio…”

Solta-se o eco de um ferrolho, a porta abre-se, uma luz insípida tinge o imenso espaço. Cai um silêncio retumbante, seguido de um crescendo cacofónico. Na penumbra, mãos destras iniciam a monótona tarefa. Um após outro, são encaminhados para o frio exterior. Dezembro vai avançado, a época exige urgência.
Neste Natal o peru não terá muito mais em que pensar.

Sem comentários: