quarta-feira, 21 de setembro de 2005

A verdadeira razão de estarmos em período de seca

Ninguém consegue explicar porque estamos em período de seca. Eu consigo.
Como sempre, a culpa é do Governo. Deste e do anterior.
Tudo começou quando um iluminado ligado à classe empresarial e negocial de construção e venda de habitações turísticas viu a luz. Passando as férias junto à Barragem de Montargil, apercebeu-se subitamente das potencialidades dos solos existentes por baixo da água. Ou seja, do fundo.
Pese embora a artificialidade da coisa, o tempo que a água ali tinha estado potenciava, quando esvaziada integralmente a barragem, uma natural fertilização e elevado crescimento da relva de campos de golfe que ali fossem instalados. Além da forte possibilidade da formação de piscinas naturais resultantes de água que entretanto se havia acumulado muito além do fundo existente e que, quando escavado o solo, poderia surgir à superfície sem esforço de maior.
Nasceu, assim, a ideia da construção de resorts turísticos, com campos de golfe, em barragens que fossem sendo desactivadas.
O tal iluminado compartilhou a sua ideia com o círculo de sócios e investidores mais próximos, ideia essa que foi recebida com claro agrado. Mas depararam-se com um pequeno problema: não existiam notícias de, a curto e a médio prazo, ser desactivada qualquer barragem em território nacional.
Fez-se então o que se costuma fazer nestas ocasiões: telefonar para um membro conhecido do Governo para que o mesmo diligenciasse pelo "progresso de Portugal" e "pela criação de novos postos de trabalho".
Reuniram-se alguns elementos intermediários e mais obscuros ligados ao Governo e os representantes da empresa imobiliária construtora e acordaram que, por contrapartidas por nós desconhecidas, seriam esvaziadas as barragens do território nacional e dado o direito de preferência à empresa em apreço para as aludidas construções.
A fim de não dar muito nas vistas, foi ainda acordado que, primeiramente, se procederia ao esvaziamento das barragens, após o que, atenta a sua inutilidade, seriam "cedidas" a terceiros para outros fins mais proveitosos para o interesse público e para o desenvolvimento da economia portuguesa.
Colocou-se então um pequeno problema: como esvaziar as barragens e atestar a sua inutilidade de forma natural? Respondeu um elemento da mesa ligado ao Governo e mais próximo da Igreja para o pessoal não se preocupar quanto a isso, que desse assunto tratava ele.
E assim foi. No dia seguinte, uma comitiva liderada pelo tal elemento da mesa, e unicamente composta pelo próprio, solicitou perante S. Pedro uma entrevista com vista à definição de uma situação com "sério interesse e benefício para o próprio", o que lhe foi concedida.
No encontro realizado, foi proposto a S. Pedro que deixasse o território nacional à míngua de água até que as barragens esvaziassem. As negociações foram duras, mas S. Pedro concordou com o que lhe foi proposto mediante as seguintes contrapartidas: entrega de um barco de arrastão português com três anos entretanto mandado abater na sequência do 17.º quadro comunitário de apoio ao abate de barcos de pesca (os pescadores, mesmo santos, têm destas exigências absurdas) e a construção de uma piscina com jacuzzi na sua vivenda ao lado dos portões do Paraíso.
Entretanto, no Governo PSD/CDS, uma pessoa completamente honesta, o Ministro do Ambiente, Nobre Guedes, apercebe-se do que se passa e tenta avisar a opinião pública. Lembram-se do homem ter dito, em Setembro de 2004, que o ano seguinte ia ser de seca? Pois foi, ninguém ligou. Apercebendo-se dos perigos que corriam, os envolvidos no caso da seca inventaram a notícia sobre a casa de Nobre Guedes na Arrábida e assim fizeram-no calar-se quanto ao assunto e concentrar-se em defender a sua honra perante a opinião pública. Para o calarem definitivamente, inventaram o caso de Benavente.
Entretanto, no céu, a água foi-se acumulando na grande barragem destinada a guardar a água que deveria cair em Portugal ao longo do ano. Para quem não saiba, no céu existem várias barragens, cada uma delas correspondente a cada um dos países existentes, e onde é guardada a água evaporada que é destinada a cair em cada um deles na respectiva proporção da evaporação.
Tanto tempo decorrido, a água iria começar a deitar por fora na barragem portuguesa e a Judiciária lá do sítio, constituída pelos Arcanjos, era capaz de começar a desconfiar do que estava a suceder.
Foi assim que S. Pedro fez o que toda a gente faz quando há líquidos proibidos a mais e não se sabe o que fazer com eles: descargas clandestinas.
Duas. Com a particular preocupação de serem efectuadas longe do local natural de destino.
A primeira descarga clandestina deu-se no final de Dezembro de 2004, no Indico. Ninguém deu por nada lá na Malásia, na Tailândia e na Indonésia, com excepção de umas quantas pessoas que tiveram as suas casas destruídas por umas ondazitas elevadas.
Ninguém soube de onde veio a água, mas também ninguém se importou muito com isso.
E como delinquente que passa impune à primeira normalmente reincide, S. Pedro não foi excepção. Quando a barragem encheu pela segunda vez, operou a segunda descarga clandestina.
Desta vez no sueste dos Estados Unidos, junto ao Mississipi, há umas semanas, aproveitando um furacão que por ali passava. Como sempre, o pessoal cá de baixo culpou-se reciprocamente, não se lembrando de se questionar de onde carga de água tinha vindo aquela carga de água, que não estava na quota "angelical" de água dos Estados Unidos.
E nós por cá continuamos sem pinga.
E assim vamos ficar, esperando a terceira descarga clandestina, lá mais para o final do ano.
Entretanto, parece que o Governo socialista já começou a preparar a fase de transição da desmontagem das barragens para construção dos resorts e nomeou um novo administrador para o Alqueva que, como é óbvio, de barragens e de administração de recursos hídricos nada percebe.
Para quando os campos de golfe?

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