sexta-feira, 6 de junho de 2008

Post Scriptum

Decidi mudar de vida.
Segui o conselho de António Variações e, num ápice e por mera coincidência, resultante de um anterior escrito meu em que anunciava o fim da minha participação neste blogue, descobri algo de curioso e que me cumpre destacar.
A primeira curiosidade é a de que existe quem, não me conhecendo, efectivamente leia o que escrevo e até tem a bondade e a gentileza de tecer comentários totalmente abonatórios e que muito me encheram de satisfação, embora tenha de reconhecer que os mesmos se mostram exagerados, certamente devido ao inesperado do anúncio da minha retirada.
A todos os que, conhecidos ou não, aqui passaram e se dignaram deixar um comentário a respeito da minha decisão, o meu reconhecido apreço (incluo, obviamente, aqui, um certo telefonema que eu cá sei).
Será bom, então, explicar as razões de tal saída de cena.
Que não são transcendentes.
Desde o início da criação deste blogue que todos nós, colegas de longa data (pois é, malta, estamos a ficar velhos, a idade vai chegando, o cabelo branqueando...), o encarámos como uma forma de nos mantermos em contacto.
O facto de aqui virmos deixar o que nos apetecesse, sobre o assunto que nos desse na telha, nem que fosse para dizer mal deste ou daquele, disto ou daquilo, era sinónimo, para os restantes habitantes deste espaço, de que tudo estaria bem com o nosso amigo e era essa a componente mais importante: a amizade que nos unia, a construção de algo que permitia, apesar de alguma distância física, haver uma proximidade virtual.
Esse espírito foi mantido e, fruto das nossas loucuras na escrita, existiram momentos de grande participação activa (lembro-me da questão à volta do escândalo com a licenciatura do nosso PM), alturas em que entendi que o objectivo inicial estava não só cumprido, mas também claramente superado.
Amigos,
se me permitem colocar aqui o que me vai na alma, com o passar do tempo fui ficando desapontado em vê-los definhar, em sentir um afastamento cada vez maior, contra o qual fui lutando sempre com o desejo de vos ver regressar ao activo, sempre com a velha máxima do bom filho à casa torna em mente.
Não foi o que sucedeu.
Dir-me-ão que, para além de mim, o Senhor Inspector ainda vai mantendo "isto" a funcionar e é verdade que assim tem sido.
Curiosamente, foram precisamente os dois últimos a chegar à aldeia que se mostraram os dinamizadores deste projecto nos últimos tempos e se é verdade que todos temos vidas preenchidas e ocupadas, que a coisa não está fácil, que as nossas situações profissionais são exigentes e esgotantes e que, para além de tudo isto, ainda existem as famílias como prioridade incontestável, não o será menos o facto de termos conseguido conciliar as situações e marcar presença, picando o ponto e fazendo com que os outros soubessem que a amizade - que estava, está e estará sempre entre nós, uma vez que esta vida, felizmente, ainda tem coisas que ficam indelevelmente marcadas em nossos corações - se manifestava desta forma simples e bonita (aqui chegado, não posso deixar de destacar o blogue da Amizade sem Fronteiras, como decidi apelidá-lo, que é, na prática, o reflexo, embora a um nível muito maior, do que acabei de afirmar. Parabéns a todos, pessoal que se uniu na Estónia, pois conseguem dar verdadeiras lições de vida a muita gente, mostrando que existem valores e sentimentos que perduram e que há laços tão fortes entre seres humanos que fronteiras algumas ou distâncias extremas que forçam dolorosas separações conseguem desapertar!).
Caramba, pessoal, que trabalho nos dá vir aqui deixar uma baboseira de quando em quando?
Por isso, e uma vez que motivos profissionais me iriam afastar durante esta semana do blogue, decidi fazer um voto de despedida, na esperança que ele chegasse aos olhos dos restantes parceiros, quase como um grito de revolta.
Apenas o Senhor Inspector, caríssimo amigo, se dignou responder, o que demonstra que nem a leitura já é feita pelos restantes membros.
Dá vontade de escrever: obviamente, demito-me!
A verdade é que não nos devemos apegar em demasia às coisas, uma vez que tal torna as separações mais dolorosas. É dos livros. E não era um blogue, este blogue, ainda para mais um blogue que pretendeu ser o reencontro de amigos e que não teve qualquer linha orientadora (que bom é escrever no caos virtual), que nos prendia. Não era o seu crescimento que nos movia. O objectivo fundamental era outro.
No entanto, posso dizer que durante este tempo todo fui unindo o útil ao agradável, pois este blogue não só me ajudou a estabilizar em termos emocionais, sobretudo em períodos menos bons que passei (a vida é como os interruptores), mas constituíu um forte elixir de juventude, fez-me voltar a sentir aquele jovem irreverente de outros tempos, do qual, ainda assim, conservo presente certas facetas no meu dia-a-dia. Costumo dizer que a criança que há em mim, que existe em todos nós, não deve morrer nunca, pois quando isso suceder estaremos também nós mortos em vida, o que considero verdadeiramente degradante para qualquer pessoa. Pode não ser uma verdade absoluta (quem a detém?), mas é assim que gosto de encarar as coisas.
E, para além de me ter proporcionado momentos de enorme alegria com os comentários, plenos de afectividade, mútuo respeito, qualidade e simpatia, fazendo-me rir (e que bom é quando nos rimos com vontade, não é verdade?), provenientes dos mais variantes quadrantes da blogosfera, existiram surpresas inesperadas que muito me enriqueceram igualmente: destaco o facto de este blogue ter possibilitado um encontro e o nascer de uma amizade (assim o espero) entre este que vos escreve estas linhas e alguém que considero estar no patamar daqueles que dominam a língua pátria e se dão ao luxo de com ela criar verdadeiras obras de arte.
O contacto com essa pessoa - ele sabe quem é - partiu de comentários feitos no seu blogue e, vejam só como são estas coisas, era igualmente conhecido de um familiar meu que é muito mais do que isso, é um verdadeiro amigo (ou o contrário, de um amigo que é muito mais do que isso, um verdadeiro familiar; ou, se calhar, as duas coisas em conjunto), e os nossos encontros, normalmente a três, mas sem número fixo, que cada vez sucedem mais frequentemente, são belas horas de convívio que passam a correr, a voar, onde a conversa é sempre como as cerejas e constituem um reflexo inegável da parte positiva deste mundo virtual (afinal, nem tudo aqui é mau, antes pelo contrário...).
Se essa constitui uma experiência que me proporcionou grande satisfação pessoal, o que dizer de todos aqueles que com simpatia aqui foram deixando os seus comentários?
Tem alturas em que sinto que vos conheço, vizinhos, e o facto de aqui deixarem os vossos comentários é algo que constitui, igualmente, uma importante faceta positiva desta loucura que foi a implementação da aldeia.
Sempre achei estranho, e estou em sintonia com outros neste meu pensar, que as pessoas entrassem em blogues, lessem, se identificassem ou não com os assuntos expostos e não deixassem um ou outro comentário.
Tem de existir uma reciprocidade nesta tarefa virtual, caso contrário nunca saberemos verdadeiramente o que pensam do que fazemos e acabamos por sentir que, afinal, andamos a pregar para os peixes.
Se a alguns isso não incomoda, num mundo cada vez mais egoísta e introspectivo, em que vivemos com os olhos colocados no chão e já nem sabemos levantar a cabeça e olhar à nossa volta, em que o nosso umbigo é sempre o mais importante, em que os outros são cada vez mais outros e nunca companheiros de caminho, confesso que acho estranho este afastamento, estas situações de puro alheamento, tanto mais que estas novas tecnologias até permitem que se deixem comentários anónimos.
Assim como não compreendo os insultos ou à má-educação que, felizmente, não tem existido neste blogue, mas que já vi espelhado noutros locais.
É este o mundo em que vivemos.
É este estado de coisas que temos de tentar alterar...
Sem que me disperse mais, queria dizer-vos que me senti verdadeiramente emocionado pelas mensagens de carinho que aqui deixaram e que não penso, verdadeiramente, terminar a minha relação com este blogue. Não desta forma.
Gostaria era que os companheiros iniciais, pelo menos, aqui viessem deixar uma mensagem de vez em quando, um "olá a todos, estou vivo!" e se divertissem como eu me divirto.
Mas por eles não posso, nem devo, falar.
E já falei muito...
Resta-me acrescentar que mudei, igualmente, a identidade do meu personagem, o tipo que se mete nos copos da aldeia e que anda sempre entornado, de tal forma que consegue escrever as coisas mais disparatadas sem que alguém fique incomodado com esse facto, pois um inimputável não sabe o que diz, quanto mais o que escreve.
Faço-o, igualmente, uma vez que não quero, nunca o pretendi, nem o pretenderia nunca (não é a minha forma de estar na vida, e quem me conhece sabe-o bem), criar confusão com ninguém. Digo isto a propósito de alguém que, pelos vistos, assume identidade idêntica ou parecida, embora à sua maneira própria. Não me importa quem pensou primeiro no nome, não quero saber. Quando criei a personagem, no instinto (e quem diz instinto, também pode dizer inrosé ou inbranco, assim à inglesa e tudo) do momento, pareceu-me bem o nome Zé Porvinho, uma vez que acumulava a famosa personagem nacional que nos faz o belo do "toma", tinha ainda a envolvente vínica e havia, logicamente, uma conotação com o disparate, tão bem retratada no comentário anónimo que me dizia para não ser parvinho!
Foram esses os motivos, digo-o não para me justificar, mas apenas para referir a quem também pensou no nome que não faço questão de ficar com ele e, sem prejuízo da bondade do contacto que demonstra a qualidade humana e o carácter de quem o fez, só espero que tenha em atenção que se não o contacto é apenas para manter um certo anonimato que, compreenda-o, prefiro ir mantendo.
De outra forma, aqui teria o meu nome verdadeiro e este passaria a ser um blogue pessoal... Ou, pelo menos, mais pessoal do que já é!
Adeus Zé Porvinho, viva o Zé Cuscopos.
Afinal, fica tudo em família e eu irei continuar sempre metido em engarrafamentos!
E desculpem o desabafo, está bem?
Isto passa-me...
Hic Hic Hurra

11 comentários:

Ana disse...

Maninho
Fizeste-me chorar.. estou emocionada. Como eu te entendo :)
Beijo grande e ainda bem que regressaste :)

Rabodesaia disse...

Caro Vizinho,
Ze... para mim, sempre zé Porvinho ou cuscopos!
Fiquei emocionada ao ler o seu post, e percebo realmente os motivos que o levam a ter tomado certa decisão, mas ainda bem que voltou atrás... porque este blog tem a sua alma, tem milheres de horas de riso meu, de verdadeira admiração que sinto que sinto pel que escreve... tão entusiasticamente, tão genialmente.
Lamento, e ás vezes peco nisso, nã o ter tanto tempo para públicar comentários nos meus vizinhos.. porque há censura do patrão que ás vezes tenho que estar de olho.
Já tive momentos que pensei... escrever para quem? ninguem me comenta? será que o post que escrevi foi uma porcaria?
Mas acho que não...acho é que por vezes somos egoistas.. e assim como eu não comento em dezenas de blogs que leio, tb nao comentam no meu!

Mas acredite visinho que independentemente de os outros aldeoes não virem cá tantas vezes, talvez é porque já ate se sintam que este blog é mais seu do que deles... e o afastamento é assim mesmo. è dificil voltar atrás, e dar um passo no sentido da reeproximação.. porque ás tantas parece que não faz sentido!
Por isso, vou apelar à união da Aldeia! Pode ser que resulte!
:) VOLTEM PÀ!!

De qualquer forma, estou muito feliz que tenha voltado! E eu continuarei a fazer a minha parte, a ler e sempre, mas sempre que possível comentar!!
Obrigada zé!
;)

Ticha disse...

Bem que me parecia que a Vizinhança não ia abandonar a aldeia,
De louvar a razão pela qual a "Aldeia Lusitana" foi criada e é pena que não se mantenha com o fim inicial...Mas como o vizinho disse e muito bem, é um escape diário e existe todo um conjunto de pessoas que nos lê e que partilha a mesma linha de pensamentos que nós, esses iam de certeza sentir a sua falta. Agora no cantinho que me toca, os seus post são um escape de boa disposição e descontração, e a visita a este canto é passagem obrigatória.
Ze_Cuscopos, parece-me bem...uma mudança simpática e nunca perdendo a originalidade.

Ps: era preciso pregar um susto daqueles à malta?!

João J. disse...

Pois é caro vizinho... tudo o que disse neste post (e sim, li-o de uma ponta à outra...) me fez pensar no gás que por vezes os blogs (falo por experiência própria do meu próprio e de uma certa Taska) perdem devido às mais variadas vicissitudes da vida. Nem todos os dias existe disposição, nem ideias de jeito para partilhar com os leitores. Por vezes, nestes blogs "comunitários", acaba por ser sempre 1 ou 2 a remar... e outros simplesmente deitados à sombra da bananeira. Não digo que todos deverão postar todos os dias, mas bastaria um "olá" de vez em quando para o espírito se manter vivo. Mas enfim... já estou também a ficar com a neura... bem.. caro cuscopos, seja bem vindo novamente a esta aldeia... e que o Vinho esteja convosco! (frase à mestre Yoda)

Bom fim de semana!

Anónimo disse...

Caro Zé. Tenho andado um pouco afastado da Blogoesfera e por momentos pensei que o vizinho tinha ido para outras paragens. Fiquei triste. Ainda pensei meter-me nos copos lol Mas felizmente continuas aqui :) e sabes que mais? Ainda bem vizinho! O teu espirito critico e a tua acutilância, fazem imensa falta! May the force be with you!!!!
Gde Abraço [[[[]]]]
.
Fica aqui o convite, para irms beber um Porto branco, às caves da Sandeman ;) Pois no prox. fds, é o que espero fazer...

Anónimo disse...

Como talvez digam lá pelas PJ e ASAE, "quem não se sente não é filho de bom agente".
E o Zé sentiu o que todos quantos fazem isto por gosto, muitas vezes sentem, ou seja, que se está a pregar no deserto.
O que nós buscamos aqui é partilha, participação, comunhão, conivência, cumplicidade, nos assuntos sérios e na maroteira que tanto gozo nos dá.
Sabendo que, por trás da aparente frivolidade, há simpatia e mesmo amizade.
Alegro-me com o regresso do Zé quer ele o faça por vinho ou por estar cus copos.
Na 4ª feira, lá estaremos, por vinho, com copos e, sobretudo, com AMIZADE.

Bottled (em português, Botelho) disse...

Caros amigos e vizinhos, enfim...

A todos o meu sincero obrigado.

Deixaram sem palavras um pobre e tocado ser humano, o que, no meu caso e como já por certo perceberam, é extremamente difícil!

Vamos lá continuar com as portas de acesso à aldeia abertas e seja o que Deus quiser...

Hic Hic Hurra

Anónimo disse...

Pois que passei aqui hoje, na esperança de reler o meu amiguito, e não é que ele voltou :-))).
Zezinho, eu sou moça de poucas palavras serias (acho que tu até sabes disso :P), sou uma pessoa forte emociomalmente é claro, pois que já fisicamente sou mais para a meia dose :P:P,algumas pessoas dizem-me: "que para mim é facil ultrapassar as coisas da vida, uma vez que tenho uma força interior superior ao normal". Sabes, muita vez eu questiono-me: " Será que por não baixar os braços, não chorar como seria de esperar pelas pessoas que me rodeiam, não terei sentimentos?" Mas tenho Zezinho, e isto tudo pra dizem que não esqueço o amigo que foste, que me fez rir, e ate esquecer por momentos a fase má que estava a passar.
Bom Zezinho o meu tempo de falar serio esgotou :P:P:P :))...pera, pera... esqueci-me de uma coisa... que foste o primeiro e unico home a ter a gentileza de me abrir a porta do carro para eu entra :)) até me senti uma princesa :))))

Beijão grande ou melhor paletes, resmas contentores deles GOSTO MUITO DE TI MIGUITO ****}{****}{**** um desses é na orelhinha :P:P:P

SantaCarinhaDePecado

Marquês disse...

Cá temos outra vez a Carinha de Pecado a fazer-se ao piso...
Zé, penso que está na altura de deixares a taberneira com quem convives diariamente entre copos e barris, e dedicares-te à contemplação religiosa das caras de pecado...

Anónimo disse...

Oh! Senhor Marquês, o que quererá V. Exª. dizer com "fazer-se ao piso"? será aquilo que me está a passar pela cabeça...Hummmmmm! pois. que se é, Sr. Marquês, lamento informa-lo mas o Zé vai continuar na taberna...o nosso amigo sabe que está a salvo das minhas "pisadelas" uma vez que sou lesbica :P:P:P:P:P :))))

Sem mais os meus respeitosos cumprimentos Sr. Marquês,

SantaCarinhaDePecado

Bottled (em português, Botelho) disse...

Esperem lá um bocadinho...

Eu também sou lésbica!!!

Só gosto de mulheres...

Hic Hic Hurra